7 de novembro de 2014

Porque música é poesia (37)


Miguel Araújo - Dona Laura

Olha a Laurinha lá vai toda 
destemida
Diz que é crescida e que prescinde dos conselhos do pai
Olha ela, lá vai toda 
decidida
Dona da vida nem duvida que é por ali que vai
Olha a Laurinha à cabeça da charanga
Das raparigas do recreio do liceu onde ela anda
E manda na dinâmica da escola
Não vai à bola com a setôra de história
E não disfarça e faz a vida negra à criatura
É a ditadura de quem manda só porque sim

Olha a Laurinha que já fuma as escondidas do pai
Com a mesada de alguém
Ainda namora as escondidas mãe
Enquanto diz que não tem medo de nada
Nem ninguém

Vai, dança até ser dia
Que a vida são dois dias
E tu vais ser alguém
Olha à tua mãe
Com um olho na novela
E o outro na panela,
Um dia vais ser tão Dona Laura como ela

Olha a Laurinha toda cheia de cidade
Sem ter idade para sequer votar na junta daqui
Sempre que a chamam ao quadro desatina e nada diz
Mas bem que opina sobre o estado a que chegou o país
Olha a Laurinha lá vai cheia de prestígio
Nenhum vestígio da miúda outrora santa e singela
E a mãe dela fica a vê-la da janela
Ainda se lembra bem do tempo em que a Laurinha era ela

A fumar as escondidas do pai com o dinheiro que alguém
Subtraiu da carteira da mãe
Enquanto diz ao mundo que ainda há de vê-la ser alguém

Vai, canta até ser dia
Que um dia há de ser dia
E tu vais ser alguém
Que é tal e qual a mãe
Um olho na novela
O outro na janela, um dia vais
Ser tão Dona Laura como ela
Aproveita agora
Que há de chegar a hora
Que não poupa ninguém
Vais ser igual à tua mãe
Com a filha pela trela
Repete-se a novela, um dia vais
Ser mais Dona Laura do que ela.

Sem comentários:

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...