Criador: Nic Pizzolatto
Atores: Matthew McConaughey, Woody Harrelson, Michelle Monaghan
Mais informação técnica no IMDb.
Temporada: primeira. Parece que foi renovada para uma segunda e que se vai centrar noutro caso, com outras personagens.
Opinião: É complicado escrever sobre uma série que nos apanha desprevenidos, seja porque a história não era o que pensávamos e porque nunca pensámos que os atores pudessem ser assim tão bons. Estava cética, assumo, pois uma série com o Matthew McConaughey, que geralmente via a fazer papéis em comédias românticas, e com o Woody Harrelson, que conhecia de comédias que costumo achar algo disparatadas, não era coisa que me chamasse a atenção; mas a Telma e um colega de trabalho insistiram e por isso lhes estou grata. Esta é das melhores séries policiais que vi nos últimos tempos, o que é dizer muito depois de ter adorado coisas como "Wallander" e "Forbrydelsen" (o "The Killing" original, proveniente da Dinamarca e cuja 3ª temporada me encontro a ver e a gostar bastante, como não poderia deixar de ser).
Para começar, a química entre os dois atores principais é notável. Depois, o que cada um dos dois confere à personagem que interpreta também é digno de nota, nomeadamente McConaughey como Rust Cohle. As personagens, mesmo a de Michelle Monaghan que aparece pouco mas com força, são tridimensionais, moralmente cinzentas e com ações que, apesar de condenáveis, nem por isso sou capaz de dizer que, perante a mesma situação, atuaria de modo diferente. É por isso interessante seguir a sua jornada através dos vários anos, já que a história começa a meio ou muito perto do seu desenlace.
Quase 20 anos depois de um primeiro caso em que Cohle e Marty foram chamados a resolver, vêem-se interrogados sobre a resolução do mesmo, parecendo que um serial killer está de volta ao ativo. Deste modo, através do inquérito a que ambos vão sendo submetidos, temos a possibilidade de ver a relação destes cimentar e azedar, percebendo o que os trouxe até ao momento presente e o que os move agora. Cohle parece um homem quebrado, que olhou para o abismo e que viu o abismo a olhar de volta. Marty, que se intitulava homem de família, parece que agora não a tem...
E sinto que perdi o raciocínio... A sério, já vos aconteceu querer falar sobre um monte de coisas e não conseguirem? Como a complexidade das personagens e como seguem um caminho, não para uma redenção ou salvação que não me parece possível, mas para uma aceitação de como são, do que os move e lhes dá força para viver. Cohle, que viu a sua filha morrer e que o terá atirado para uma espécie de depressão, parece incapaz de sair do lugar sombrio em que vivia para no final achar "que a luz está a ganhar", para ver uma luz no que o rodeia, em amigos (como Marty) que o acompanham. Marty parece perceber o quanto realmente precisa da família, quando antes talvez julgasse que o contrário é que era verdade. E sinto que não estou a conseguir fazer justiça ao caminho que estas personagens percorrem! *atira mãos ao ar* Talvez se falar antes da história...
A história em si também vai apresentando diferentes níveis e camadas, diferentes géneros. Se o título faz alusão a uma série policial, rapidamente vemos elementos que parecem sobrenaturais a aparecer, correntes filosóficas como o nihilismo, teorias sobre o espaço-tempo, simbolismos... Só os monólogos de Cohle parecem dar um enxerto de porrada, deixando uma pessoa extenuada e mesmo confusa, ponderando sobre o sentido da vida. A história vai-se desenrolando algo que lentamente, há um build-up tal que a certa altura sabemos que dali não pode vir nada de bom. Espera-se um grande BANG! e chegado o momento parece que a montanha pare um rato. Encontramo-nos de repente a meio do último episódio e a pensar "foi isto?!" E então Cohle e Marty conversam e realmente percebemos que é assim, nem sempre se consegue todas as respostas, nem sempre há um grande bang!, nem sempre todos os "maus" são apanhados, só podemos fazer a nossa parte por muito pequena que seja.
Se o final parece que soube a pouco depois daquele build-up sobrenatural? Sim, mas nem por isso deixa de ser bom e, sobretudo, realista. Talvez o espectador, como Cohle e penso que como qualquer ser humano, tenha sido apanhado por teorias da conspiração, ligando sinais e coisas que não tinham nada haver com o assunto, ou não tinham o peso, a importância, que colocámos nelas, porque queremos que haja algum sentido que só nós vemos para justificar algo que pode, simplesmente, não ter explicação.
E mais uma vez sinto que me perdi no raciocínio. Um mês depois e a única coisa que posso dizer sem parecer tontinha é "opá vejam!"
Veredito: Para ter na estante. Há coisas sobre as quais não dá para falar de forma coerente, há coisas sobre as quais não consigo falar de forma coerente. Esta é uma dessas coisas. Vejam e avaliem por vocês mesmos.
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