21 de março de 2011

Verdade ou Consequência? (3)

A Fantasia Urbana

Quem me conhece minimamente (na verdade, basta ler as críticas do meu blogue, eheh) sabe que um dos meus géneros literários favoritos é a Fantasia Urbana. Apesar de ler outro tipo de livros, o escapismo proporcionado por este género levou-me a adquirir e ler muitos livros relacionados com vampiros, lobisomens e outras criaturas sobrenaturais. É também a razão pela qual escrevo este pequeno artigo, para a rubrica “Verdade ou Consequência” do blogue Este meu Cantinho. Espero, com aquele, dar a conhecer o género a quem ainda não conhece, quem sabe arranjar mais alguns fãs e, ao mesmo tempo, esclarecer estes novos eventuais leitores sobre as diferenças dentro da Fantasia Urbana e como melhor escolher uma obra para leitura.

Penso que a primeira pergunta que se coloca é, o que é “Fantasia Urbana”? Que livros se inserem dentro do género?

A Fantasia Urbana é um subgénero da Fantasia Contemporânea. A principal característica que a diferencia da Fantasia dita regular (da qual os exemplos mais famosos são a obra de Tolkien) são os locais onde a acção decorre; tal como o nome indica, a Fantasia Urbana decorre no mundo real, mais especificamente em ambientes urbanos, onde o autor insere elementos do fantástico (de magia a criaturas sobrenaturais). Outros subgéneros da fantasia como o Romance Paranormal, a Fantasia Histórica e o Steampunk podem utilizar também esta ‘fórmula’ para a construção da história; no entanto não se deve confundir qualquer dos géneros acima mencionados com a Fantasia Urbana, pois se o “setting” é semelhante, existem também diferenças cruciais de que falarei mais adiante.

Apesar de apenas nos últimos anos ter ganho uma popularidade espantosa, a Fantasia Urbana já existe há bastante tempo no ‘panorama’ literário. Na verdade, se utilizarmos apenas o conceito acima indicado para definir obras relacionadas com o género, podemos apontar “Drácula” de Bram Stoker (1897) como uma das primeiras obras de Fantasia Urbana alguma vez escritas. Claro que, como já antes mencionei, não é apenas o local onde decorre a acção que define a Fantasia Urbana; outros factores como a sociedade alternativa (que reconhece, geralmente a existência de magia e/ou criaturas sobrenaturais) e o mistério geralmente associado a este tipo de livros também são parte intrínseca do género e “Drácula” não segue especificamente todas estas linhas.

A obra de Charles de Lint, no entanto, segue. O seu livro “Moonheart” (1984) é considerado uma das primeiras obras de Fantasia Urbana, se não contarmos “Entrevista com o Vampiro” de Anne Rice, que foi publicado em 1976 (no entanto, o segundo livro de Rice, “O Vampiro Lestat” só viria a surgir quase dez anos mais tarde, em 1985). De Lint viu publicadas muitas das suas outras obras do género durante as décadas de 80, 90 e mesmo já no século XXI (“Widdershins” – 2006). Mas este autor não esteve sozinho no mundo da Fantasia Urbana; apesar de ser um dos primeiros a escrever neste género, outros se seguiram. Mercedes Lackey aclamada autora de Fantasia escreveu uma trilogia sobre uma bruxa americana (Diana Tregarde) entre 1989 e 1991; Tanya Huff escreveu uma série sobre uma detective e o seu parceiro vampiro que consiste de seis livros (a série Vicki Nelson ou “Blood Series”) entre 1991 e 1997; Também L.J. Smith começou a escrever as suas séries de vampiros para jovens adultos (“Os Diários do Vampiro” e “O Mundo da Noite”) nos anos 90, o que fez dela uma espécie de pioneira na literatura paranormal juvenil; e Laurell K. Hamilton iniciou em 1993 a sua série “Anita Blake, Vampire Hunter” que conta hoje com mais de 15 livros e ainda continua a ser publicada.

Mas foi com a série de televisão “Buffy, a caçadora de Vampiros” (1997 a 2003) que o género ganhou vida. Buffy foi um sucesso instantâneo e prolongou-se por diversas temporadas. Em 1997 seria também publicado o primeiro livro de Harry Potter, que pode ser inserido, com algumas reservas, no género da Fantasia Urbana. O sucesso literário da série de J.K. Rowling e o de Buffy, atirou para a ribalta as séries acima listadas, especialmente a de Anita Blake. As fileiras de leitores da Fantasia Urbana engrossaram-se e exigiram mais livros, mais séries e maior diversidade. Em 2001 surge o primeiro livro da série “Sangue Fresco” de Charlaine Harris, um dos muitos exemplos da resposta do mundo editorial aos clamores do público. Em 2005 saía “Twilight” (“Crepúsculo”) de Stephenie Meyer que catapultou para a fama o Romance Paranormal juvenil e abriu todo um novo mercado – o da literatura paranormal para jovens – que foi rapidamente inundado com obras de cariz semelhante como “Hush, Hush”, “Anjo Caído” ou “Eternidade”.

Poderia listar muitas outras séries, tanto juvenis como para os mais adultos, mas neste momento este mercado encontra-se tão saturado que a lista teria muitas páginas. Todos os meses são publicadas nos Estados Unidos, novas ofertas dentro do género da Fantasia Urbana e dos seus géneros “irmãos” o Romance Paranormal (que geralmente tem as mesmas características da fantasia urbana, mas centra-se mais no romance do que na acção; os livros de Sherrilyn Kenyon e Kresley Cole são exemplos) e o Steampunk (cuja acção se situa em épocas passadas, geralmente no século XIX ou meados do século XX e onde assistimos a uma evolução alternativa da sociedade; muitas vezes criaturas sobrenaturais como vampiros estão presentes. As obras Gail Carriger e Cherie Priest são bons exemplos de Steampunk que entram na esfera da Fantasia Urbana).

Esta diversidade de livros com a sua multitude de enredos e uso criativo de elementos fantásticos faz da Fantasia Urbana o género perfeito para aqueles que gostam de leituras escapistas e imaginativas mas que se sentem entediados com os enredos reciclados da Fantasia Épica. Elfos, donzelas, espadas e sociedades medievais são substituídas por caracterizações diversas de vampiros, lobisomens e fadas e muitas vezes torna-se interessante saber o que inventarão os autores para tornarem original o seu livro num género que, como já disse, se encontra saturado. A possibilidade de viajar para mundos tão diferentes mas ao mesmo tempo tão parecidos com o nosso é a razão pela qual recomendo a Fantasia Urbana.

Fontes de Pesquisa:

O primeiro artigo dentro da categoria Verdade foi escrito pela Slayra, do blog Livros, Livros e mais Livros, que desta forma respondeu a um repto que lhe havia feito. :D

11 comentários:

p7 disse...

Gostei. ;D Ando curiosa para espreitar para os livros da Gail Carriger, btw.

Este género tem-me deixado curiosa e tem vindo a cativar-me. Acho que uma prova da força do género é o facto de tanto a Anne Rice como a Laurell K. Hamilton terem perto de 20 livros nas suas séries vampíricas, and counting (pelo menos no caso da segunda; a primeira parece que se virou para outras paragens :P).

Ana C. Nunes disse...

Bom post, bastante informativo. A verdade é que a Fantasia urbana muitas vezes se mistura com outros géneros (especialmente o romance paranormal), mas claro que há boas obras que são boas definições do género em causa (já agora, podias aqui ter deixado um lista dos teus favoritos, por curiosidade).
E afinal não sou a única que sente algum 'receio' em dizer que os livros do Harry Potter são fantasia urbana. São-no, sem dúvida, mas ao mesmo tempo escapam-se do género.

Olinda Gil disse...

Gostei muito deste teu post: estava muito interessante e muito elucidativo!

Na penúltima Bang! também saíu um artigo sobre a Fantasia Urbana, não sei se leste... De certeza que gostavas!

Eu aprecio variados géneros de livros, desde que o livro seja de qualidade. O mesmo se passa com a Fantasia Urbana: tudo depende da qualidade literária do livro.

Como ultimamente tem havido uma "febre" com este género, decidi começar a escrever uma história que me inunda a imaginação há muitíssimos anos. Gostava que espreitasses: oenigmadegabriel.blogs.sapo.pt

Muito obrigada!

slayra disse...

Olha, o meu texto, eheh. :D

p7: o problema com as séries de ambas as autoras é que a qualidade decresce bastante com o tempo. Mas os primeiros da Anne Rice, especialmente a Rainha dos Malditos são muito bons.

Ana: É verdade, os géneros sobrepõem-se muitas vezes, especialmente o steampunk, o romance paranormal e a fantasia histórica. Os livros da Nalini Singh são um bom exemplo de sobreposição fantasia urbana/ romance paranormal.
Quanto aos favoritos... lol, tenho alguns (de fantasia urbana). Por exemplo, "A Rainha dos Malditos" de Anne Rice, a série "Downside Ghosts" da Stacia Kane e a série "Kate Daniels" da Ilona Andrews. Também gosto dos "Ficheiros de Dresden", mas pela tua opinião do primeiro livro talvez não seja bem a tua onda.
Quanto ao Harry Potter... é complicado; parece-me ser uma mistura de high fantasy e low fantasy. Não dá muito bem para definir, mas alguns elementos, especialmente nos últimos livros são definitivamente fantasia urbana.

Olinda, obrigada. :D
Não li o artigo na Bang! porque atá recentemente não sabia onde podia ir buscar um exemplar... e quando descobri já a Bang! 9 estava esgotada, quanto mais a 8. :D Vou ler, com gosto.

Cat SaDiablo disse...

Parabéns à WhiteLady pela rubrica e à slayra por aceitar o desafio! Gostei muito do texto. Haja alguém que se arrisque com Verdade :P

Gostei do texto em primeiro lugar porque se nota que és fan do género, mas isso não afecta o teu discurso. É um texto bastante informativo e imparcial e ao mesmo tempo cativante.
Deu para desfazer alguns pressupostos e ficar com vontade de ler mais :D

O artigo que a Olinda se refere foi publicado na Bang! 8, escrito pela Safaa Dib, e também achei bastante interessante. Compara e distingue o Romance Paranormal da Fantasia Urbana. Será difícil encontrares a Bang! 8 agora, mas está disponível para download a versão digital no site da SdE. Pelo fórum tb és capaz de encontrar alguém com mais que um exemplar.

WhiteLady3 disse...

Ainda bem que gostaram da ideia e ainda mais do texto! Praticamente fiz-lhe a questão "Verdade ou Verdade?", penso que não chegou a ter Consequência como hipótese, e felizmente ela acedeu. :D Quanto ao tema, foi quase um ultimato! :P

Este não é um género que leia muito, mas tenho alguma curiosidade e sempre que tenho dúvidas e procuro sugestões é à Slayra que recorro. :) Como achei que podia haver mais pessoas como eu, só lhe podia sugerir para escrever sobre tal tema.

Muito obrigada! ;)

Laura disse...

Este post está extraordinário, especialmente para quem quer boa informação mas de forma rápida.
Mas tenho de confessar que a fantasia urbana não me interessa muito excepto alguns títulos MUITO particulares que tenho curiosidade de ler. Tirando isso, meio que costumo fugir deles (porque sempre que me lembro de fantasia urbana lembro-me logo de twilight e tenho uma certa aversão - lamento).

beijinhos*

slayra disse...

Lol, Laura eu também não gostei nada do Twilight! Aliás, nunca acabei de ler o primeiro livro, quanto mais continuar com a série. Mas o Twilight não é fantasia urbana, é mais romance paranormal juvenil. :D

Whitelady, ainda vamos fazer uma entrevista conjunta ao Scott Westerfeld. :p LOL

WhiteLady3 disse...

Laura, já somos duas. Alguns títulos chamam a atenção mas tudo o que se assemelha a Crepúsculo leva-me a fugir a 7 pés (a não ser que siga o blog da autora e até lhe ache piada, o que me leva a comprar o livro *sim Maggie Stiefvater, estou a olhar para ti!* :P )

Slayra, tu tens tanta piada! LOL *mas WL começa a pensar seriamente no assunto...*

Laura disse...

Pois, mas eu ainda não li o twilight (sim, eu sei, é feio comentar sem ler), mas nao consigo livrar-me daquela coisa que são os filmes e a histeria irrita-me o.o mas hei-de ler (apesar de ter quase a certeza que não vou gostar).
Alias, Slayra: eu acho que até fui parar ao teu blog porque uma vez li uma crítica sobre twilight muito bem construída e penso que foste tu. Se bem que já não tenho a certeza LOL mas sim, nao é bem fantasia urbana x)

WhiteLady3: Aaah, sim, eu também comprei o livro da Maggie Stiefvater HAHA. Esse livrinho até é decentezinho xD

WhiteLady3 disse...

É bom saber que não será dos piores. :D

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