18 de setembro de 2010

O Físico (Trilogia Cole, Livro 1)

Autor: Noah Gordon
Género: ficção histórica
Editora: Biblioteca Sábado | Nº de páginas: 520
Nota: 4/5

Resumo (do livro): No século XI, Rob Cole abandona com apenas onze anos a pobre e doente cidade de Londres para vaguear pela Inglaterra. Durante as suas deambulações, fazendo malabarismos e vendendo curas para os doentes, vai descobrindo a dimensão mística da sanação. E é através dessa peregrinação que descobre o seu verdadeiro dom, que o levará a converter-se em médico num mundo violento, cheio de superstições e preconceitos. Tão forte é o seu sonho que decide empreender uma insólita e perigosa viagem à Pérsia, onde estudará na prestigiada escola de Avicena. Aí dar-se-á uma transformação que modificará para sempre a sua vida e o seu destino...

Opinião: Desde que li a crítica no blog Papéis e Letras, que fiquei com curiosidade em ler este livro. Tendo sido o escolhido para mais uma leitura conjunta do fórum Estante dos Livros, não hesitei e peguei-lhe.

Neste livro travamos conhecimento com Rob Cole que cedo descobre possuir um dom, consegue sentir a força vital das pessoas, como uma ampulheta com areia a escorrer. Consegue perceber se o fim de alguém está próximo, devido a doença, pegando-lhes nas mãos. Mas tal dom transforma-se em fardo já que sente tal pela primeira vez com seus pais que morrem deixando-o órfão e com os irmãos mais pequenos ao seu cuidado, que rapidamente são tomados por outros, pessoas mais capazes de os acolher e educar. Também um Barbeiro-Cirurgião toma-o em seu cuidado e ensina-lhe a profissão: a arte dos malabarismos e do desenho de caricaturas, de modo a chamar a sua plateia para depois vender então os seus bálsamos e tratar de algumas infecções e doenças. Mas percebendo que o seu conhecimento é pouco face às inúmeras e diversas queixas dos seus pacientes e sendo-lhe dado a conhecer que na longínqua Pérsia se estuda a arte de tratar as variadas doenças, sob a mão de Ibn Sina, Rob parte então à descoberta do saber, passando por Judeu para ser melhor tolerado no Oriente muçulmano.

Adorei o retrato do séc. XI que o autor nos apresenta, tanto da Europa como do Oriente, sob os mais variados aspectos. Para começar, devo salientar a descrição da viagem de Rob rumo à Pérsia, com as caravanas e as aldeias judaicas, dispostas a cuidar de qualquer um da sua fé, numa extensa rede de comunicação. Apesar de ser aluna de História/Arqueologia, e agora mais dedicada a transportes (do séc. XV em diante), li tal descrição com muita curiosidade já que era coisa que confesso pouco sabia. Claro que sabia que se tinham de deslocar em grupos, a pé, mas não sabia como tal viagem se organizava e como se protegiam de meliantes e soldados sempre tão perigosos nas estradas. Para além disto, achei curioso que estando na base da hierarquia médica da época, os barbeiros-cirurgiões fossem, porventura, os que mais e melhor conseguiam acudir os doentes, já que os físicos não faziam mais que sangrar os pacientes (técnica, aliás, que prevaleceu no tempo até ao séc. XIX). A descrição dos ensinamentos também em pareceu bem conseguida, assim como as diferenças religiosas que apesar de separarem os personagens, não impede que se dêem bem e se tornem até amigos, passando uma mensagem semelhante à de Os Leões de Al-Rassan. A discussão sobre o dissecar corpos também me pareceu bem urdida, com argumentos coerentes tanto do lado de Rob, que a certo ponto se rebela contra a religião já que vê fiéis a desobedecerem a leis canónicas para seu proveito próprio mas que para inovar na ciência nada faziam, assim como dos adeptos mais fiéis à religião. Acreditando, as religiões do Livro, na vida após a morte, é compreensível que se temesse a dessacralização através da abertura daquele depois da morte. Saliento também como este tema é ainda actual, com poucos corpos sendo doados à ciência e havendo discussão acerca da recolha de órgãos em pessoas clinicamente mortas mas com órgãos viáveis para transplantes, assunto que de resto faz sempre parte de alguma série médica.

Reparei que no fórum pouco debate esta LC provocou. Pela minha parte, nas últimas semanas não participei por falta de tempo (às vezes tenho muito tempo disponível, outras vezes pausar para respirar é complicado), mas também porque achei que pouco havia a debater. O autor tem uma tal capacidade de escrita que os mais variados temas que se poderiam discutir são discutidos no próprio livro. É o autor que puxa os temas e de forma directa expõe prós e contras, os dois lados da discussão, acabando sempre com cada um dos lados um pouco mais sábio sem, no entanto, se sentir tentado a mudar de opinião. As opiniões são firmes, as exposições do outro também, mas em vez de se tentarem dominar um ao outro ao perceberem o impasse, colocam a discussão de lado entendendo que cada um tem a sua opinião. Talvez tal ensinamento pudesse ser tomado por outros, digo eu...

Sem dúvida um livro que aconselho sobretudo para quem tenha curiosidade em ler sobre o séc. XI, já que oferece um variado leque de personagens e situações que mostram de forma exemplar tal período.

Só uma curiosidade, existem mais dois livros, Shaman e Matters of Choice, que acompanham a família Cole na sua aventura médica, por assim dizer, sendo que estes dois livros se centram em diferentes períodos históricos, no séc. XIX e séc. XX, respectivamente.

2 comentários:

Anónimo disse...

Será possível ainda não ter lido uma única crítica negativa a este livro? :O

Tenho mesmo que o ler!!

Paula disse...

Um Livro que é uma autêntica obra-prima. ADOREI esta leitura e aprendi imenso.
Abraço

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