21 de março de 2009

1808: Como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a História de Portugal e do Brasil

Autor: Laurentino Gomes
Género: história (não ficção)
Editora: Dom Quixote | Nº de páginas: 392
Nota: 4/5

Resumo (do site Wook): Nunca algo semelhante tinha acontecido na história de Portugal ou de qualquer outro país europeu.

Em tempo de guerra, reis e rainhas tinham sido destronados ou obrigados a refugiar-se em territórios alheios, mas nenhum deles tinha ido tão longe, a ponto de cruzar um oceano para viver e reinar do outro lado do mundo. Embora os europeus dominassem colónias imensas em diversos continentes, até àquele momento nenhum rei tinha posto os pés nos seus territórios ultramarinos para uma simples visita - muito menos para ali morar e governar. Era, portanto, um acontecimento sem precedentes tanto para os portugueses, que se achavam na condição de órfãos da sua monarquia da noite para o dia, como para os brasileiros, habituados até então a serem tratados como uma simples colónia de Portugal.

D. João VI foi o único soberano europeu a visitar terras americanas em mais de quatro séculos e foi quem transformou uma colónia num país independente.

No entanto, o seu reinado no Brasil padece de um relativo esquecimento que, quando lembrado, é tratado de forma caricata.

Mas o Brasil de D. João VI não se resume a episódios engraçados. A fuga da família real para o Rio de Janeiro ocorreu num dos momentos mais apaixonantes e revolucionários do Brasil, de Portugal e do mundo. Guerras napoleónicas, revoluções republicanas e escravidão formaram o cenário no qual se deu a mudança da corte portuguesa e a sua instalação no Brasil.

O propósito deste livro, resultado de dez anos de investigação jornalística, é resgatar e contar de forma acessível a história da corte portuguesa no Brasil e tentar devolver os seus protagonistas à dimensão mais correcta possível dos papéis que desempenharam há duzentos anos.

Como se verá, estes personagens podem ser, inacreditavelmente caricatos, mas isso é algo que se poderia dizer de todos os governantes que os seguiram, incluindo alguns actuais.

Opinião: Este livro, escrito de forma brilhante e bastante acessível, foca-se na corte portuguesa no Brasil, após a invasão da Península Ibérica pelas tropas francesas e da ameaça feita por Napoleão, em que prometia apagar a dinastia de Bragança de Portugal. Pressionado pela Inglaterra, que pretendia que Portugal não aderisse ao Bloqueio Continental e mantivesse os seus portos abertos aos navios de guerra, mas também comerciais, ingleses, por um lado e pela França do outro, D. João VI foge para o Brasil de modo a manter a sua coroa e o seu domínio tanto no continente europeu (tido por alguns políticos à época como não sendo “a melhor e mais essencial parte da monarquia”) como no americano.

Chegando ao destino em 1808, seguimos então as mudanças feitas naquele país, até então fechado ao mundo como forma de Portugal manter o seu domínio e o monopólio dos produtos naturais, das riquezas daquele território, mas também de modo a manter a dependência do território americano em relação às manufacturas produzidas em Portugal. Como sede da corte, foi necessário conceder então direitos até então proibidos, e que contribuíram para que o Brasil se unisse, como não o era até então, e ganhasse autonomia em relação ao pequeno país europeu que o controlava, arranjando desse modo as bases para a sua independência, que aconteceria um ano depois de D. João VI ser obrigado a regressar a Portugal.

Gostei da escrita acessível, nota-se que foi escrito por um jornalista e não um historiador, e de algumas comparações entre os acontecimentos de então e os dias de hoje. Foi uma maneira agradável de conhecer mais sobre a história da corte portuguesa no Brasil e a sua contribuição para a sua futura independência, aspecto da história de Portugal que muitas vezes é ignorado ou abordado apenas superficialmente nas aulas de História em Portugal.

4 comentários:

Célia disse...

Eu gostei imenso deste livro. Lê-se muito bem e é informativo! E como muito bem dizes, de facto pouco mais nos dizem na escola para além de que a corte foi para o Brasil.

WhiteLady3 disse...

Adorei logo a maneira como ele começa o primeiro capítulo. E o problema dos piolhos. :D É este tipo de comparações e pormenores que tornam os livros de história fixes, porque será que os historiadores não percebem?!

Depois de ter lido este livro, confesso que é chato voltar às biografias, ainda por cima na biografia de D. João VI não há nada de interessante. Nos outros ainda havia as cartas da D. Mariana Vitória, que são deliciosamente críticas em relação aos sogros (D. João V e D. Maria Ana de Áustria) e que se nota que tinha carinho pelo marido, D. José, e pela filha, D. Maria.

Mónica disse...

Já olhei várias vezes para esta capa mas nunca me tinha chamado especialmente à atenção.

Depois de 2 críticas positivas acho que terei de começar a equacionar a aquisição deste livro.

WhiteLady3 disse...

Eu aconselho. :) Achei uma maneira bastante interessante e mais apelativa de conhecer a nossa História.

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