19 de setembro de 2013

Persuasão

Como explicar o meu amor por esta história? Como explicar o porquê de adorar este livro e as suas adaptações ao ponto de reler e/ou rever vezes sem conta? É uma tarefa difícil falar sobre algo que se adora, mas cá vai a minha tentativa. Pode não ser inteiramente inteligível porque demasiados feelings e querer dizer tudo e mais alguma ao mesmo tempo, mesmo que em 3 partes distintas, geralmente dá asneira.

Persuasão conta a história de Anne Elliot, filha de um nobre para quem beleza e títulos são o mais importante, que foi persuadida, quando mais nova, a não se casar com um jovem marinheiro sem dinheiro. Cerca de 8 anos mais tarde, devido a hábitos pouco regrados, a sua família vê-se obrigada a arrendar a casa e mudar-se para Bath, numa tentativa de pagar a credores, o que leva Anne a reencontrar-se com Frederick Wentworth, agora Capitão da marinha inglesa e homem de fortuna.

Parece ser um simples romance, mas como é hábito com Austen, acaba por se revelar muito mais do que isso. Volta a estar bem presente a crítica social, nomeadamente à nobreza ou aos seus elementos mais fúteis, que nada vêem para além de caras bonitas e títulos. Um bom exemplo, acaba por ser a família de Anne, não só nas figuras do pai e irmã mais velha, mas sobretudo na pessoa da irmã mais nova, que acaba por julgar ofensivo as suas cunhadas "darem-lhe" ligações com pessoas de estatuto mais baixo ou que foram elevadas, no caso de Benwick, devido à guerra e à progressão na carreira militar. Anne destaca-se dos seus familiares por achar:
'My idea of good company...is the company of clever, well-informed people, who have a great deal of conversation; that is what I call good company.'
'You are mistaken,' said he gently, 'that is not good company, that is the best. Good company requires only birth, education, and manners, and with regard to education is not very nice.'
Além disso, ao contrário das restantes protagonistas de Austen, Anne é já uma mulher adulta, com quase 30 anos e ainda solteira. Passa despercebida, as suas opiniões são pouco tidas em conta pela sua irmã mais velha e o seu pai, tem uma paciência enorme para aturar as neuroses da irmã mais nova e um feitio gentil que convida os restantes a procurarem o seu conselho, mas também a desabafarem e a esperarem que com o seu senso consiga persuadir outros a mudarem as suas atitudes (isto nomeadamente em relação aos Musgroves e a Mary). Pouco sei da vida de Jane Auten mas acaba por ser-me tão fácil imaginar a autora na mesma situação. Seguir a história pelo ponto de vista de Anne, parece-me que é quase entrar na cabeça de Austen e ver o mundo pelos seus olhos. O seu olhar crítico está presente em Anne e os seus pensamentos devem ter passado pela cabeça da própria autora perante situações semelhantes, ou muito provavelmente não os teria escrito.

E repararam como já usei duas vezes a ideia da "persuasão"? Acaba por ser um tema recorrente a forma como somos influenciados pelas pessoas à nossa volta. Como agimos, que passos damos, como pensamos acaba por ser algo condicionado pelas pessoas que nos rodeiam, seja pelo seu modo de pensar, pelos conselhos que oferecem, pela sua aparência ou ares a que se dão. E nem Anne está imune a tal, ainda que seja mais ponderada a julgar os outros e as suas intenções. Por ter sido persuadida muito cedo a não casar com um jovem "who had nothing but himself to recommend him" e com isso ter ficado infeliz, nota-se que tem em menor conta a opinião dos outros ou não lhes dá tanto peso e importância pois percebe que sabe, melhor do que ninguém, o que a fará feliz.

De resto, acaba por ser interessante ver como a personagem de Anne cresce, ainda que de modo pouco aparente. Num meio em que a ouvem, que a têm em conta, num meio em que está rodeada de pessoas como ela e com quem gosta de conversar, como Bennick e os Croft não só por conhecerem e lhe contarem mais do mundo que não conhece mas por terem conversas interessantes e estimulantes para quem de outro modo só houve falar de sociedade e pessoas com poucos ou nenhum interesses que não sejam fúteis, começa a desabrochar, a mostrar a sua fibra e é quando outros começam a reparar nela. Um deles acaba por ser Wentworth, que nunca a esqueceu. Este também passa por uma fase de crescimento mas só percebemos o quanto no final. Ele acaba por ser a imagem de quem tem uma ideia muito definida do que quer, apenas para perceber como estava errado, como certas escolhas não revelam uma inconstância mas força de carácter.

A nível de romance, é das histórias mais bonitas que já li, ou não tivesse, como já devo ter dito um milhar de vezes, a carta mai'linda alguma vez escrita! A constância e a perenidade do amor é outro tema desenvolvido pela autora e que dá lugar a diálogos e pensamentos interessantes. A sério, se pudesse acho que citava o livro todo...

Mas passando às adaptações...

A de 1995 é a minha preferida, não só por ter sido a primeira que vi e revi vezes sem conta (comfort movie!) mas por tudo aquilo que mostra. Para começar, o capitão Wentworth na pessoa do Ciáran Hinds parece realmente que viveu imenso no mar, não será tão apelativo ao olho como o Rupert Penry-Jones mas, para mim, acaba por ser O Wentworth. E depois temos a Amanda Root magnífica como Anne Elliot.

Mas está claro que só isso não basta, só termos dois magníficos autores não é suficiente, tem de haver química... e há! Talvez não daquela que salta à vista, mas uma muito mais subtil, tal e qual de acordo com a época e com o livro. É visível o quanto Wentworth deseja ver Anne quando interrompe o pequeno-almoço daquela depois de ela ter passado a noite do dia anterior a cuidar do sobrinho, enquanto os restantes jantavam em Uppercross; o quanto se preocupa com ela enquanto passeiam e, devido ao cansaço dela, a convence (ok, é mais obriga) e ajuda a subir para a charrette; o quanto ele pretende mostrar que tornou-se naquilo que lhe prometera e como ela não tinha de se preocupar, como não o devia ter rejeitado; como a observa quando interage com outros, disfarçando no entanto o seu interesse. E como Anne se sente incomodada, mesmo ao ponto do desespero (na charrette é bem perceptível), ao ver Wentworth namoriscar com Louisa ou quando outros lhe falam do quanto ele devia casar-se com alguém, sem aparentemente a terem em conta; e depois em Bath, o quanto ela pretende mostrar que não é a mesma, que desta vez se depender dela não existirá um "não"; e a carta! A cena da carta! *suspira*

É verdade que há uns momentos estranhos (e algo silenciosos), em Lyme quando se riem sem grande propósito em casa de Harville, e mesmo o final, quando Wentworth entra pela sala adentro, a pedir autorização para marcarem uma data, com toda a gente num grande estado de "WTF?" ao qual Harville, que o acompanha, também se junta por não parecer estar a par do enlace e das intenções do amigo. Acho o fim tão ridículo que para mim geralmente o filme acaba com o beijo e com eles a afastarem-se da confusão do circo, juntos, para um futuro em comum. *suspira novamente*

A mais recente, de 2007, tem uma cena final mais bonita mas de resto deixa algo a desejar, sobretudo para quem idolatra o livro como eu. Ok, o casting em termos físicos e idade dos actores é capaz de estar mais acertado e de acordo com a obra, Sir Elliot por exemplo é muito mais arrogante e convencido, mas as várias mudanças na história, mesmo que para tentar explicar que Anne e Wentworth têm um passado em comum, acaba por desvirtuar um pouco a intenção do livro, parece-me. Chegam a colocar diálogos que deviam acontecer em Bath na boca de outros personagens e em Lyme! *leva as mãos à cabeça* Nesta adaptação não há subtileza, o espectador é praticamente agredido com as relações que se estabelecem entre as personagens, talvez para criar ainda mais drama mas que, pelo menos para mim, acaba por falhar redondamente.

Depois temos a corrida da carta... *suspira mas de desilusão* A sério, para além de cortarem frases da carta (!, eu sei que acabava por não fazer sentido, afinal de contas trocaram os diálogos, mas como ousam mexer na carta mai'linda alguma vez escrita?), acho que nunca vi alguém tão ofegante e suspirante *ignora as vezes que também já suspirou só ao escrever este post* num filme ou adaptação do género. E chega a ser enervante ter a Anne a olhar longamente para a câmara, como se fosse assim que o espectador se apercebesse do torvelinho que vai na sua alma. A parte do diário, pelo contrário, pareceu-me bem conseguida, até porque conseguiu colocar em filme outra das citações que mais adoro, e a banda sonora é fabulosa, chegando mesmo a relembrar-me, em algumas ocasiões, "North and South" ou não fosse o mesmo compositor. Mas parece que por cada ponto bom há dois ou três que me irritam, incluindo alguns dos planos e o raio da câmara a tremer. Agora anda tudo com câmara ao ombro?!

Foi a minha segunda visualização, pouco tempo depois de ter visto a de 1995, e talvez por ter um soft spot para aquela veja esta com tão maus olhos. A sério, tentei ver de forma distanciada, sem qualquer preconceito, só tendo em conta o livro para avaliar de forma justa esta adaptação e perceber se era possível eu gostar desta adaptação, mas não consigo.

E pronto, acho que é isto. Sentia que faltava aqui neste cantinho um post como deve ser dedicado a esta obra, uma das minhas preferidas, e apesar de não estar perfeito, pelo menos deu-me a desculpa para ir reler e rever (e suspirar) mais uma vez que é o que realmente interessa. :D

2 comentários:

Jacqueline' disse...

Foi o primeiro que li dela e gostei bastante :) Ainda não vi nenhuma das adaptações que falaste, mas agora fiquei com vontade de ver a de 1995 :)

WhiteLady3 disse...

A de 1995, tal como o North and South, é daqueles DVDs que vejo sempre que estou em baixo. :)

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