29 de julho de 2013

Tropa de Elite 1 e 2

Diretor: José Padilha
Baseado no livro Elite da Tropa de André Batista, Rodrigo Pimentel e Luiz Eduardo Soares por Bráulio Mantovani e José Padilha
Atores: Wagner Moura, André Ramiro, Caio Junqueira, Irandhir Santos

Mais informação técnica no IMDb aqui e aqui.

Quando e onde o vi: 26 de julho em casa.

Opinião: Sexta-feira começa a ser dia de cinema em casa com o irmão (sim, praticamente a minha vida social é inexistente), já que os DVDs por ver, tal como os livros por ler, parece que vão abundando cá por casa. Como o meu irmão é mais versado em cinema do que eu, pedi-lhe então uma sugestão e lá surgiram estes.

Tenho de dizer que apesar de ter adorado "A Cidade de Deus", os filmes brasileiros não são bem a minha onda porque, pasmem-se, parece que preciso com mais frequência de legendas do que em filmes em inglês. Há por vezes ocasiões em que não oiço ou não percebo uma fala, e o mesmo acontece em português de Portugal. Talvez não veja os filmes e séries com a mesma atenção, afinal de contas é a minha língua (não preciso de atenção, entendo tudo... yeah, right!), ou talvez se deva à dicção, não faço ideia, o que é certo é há partes do diálogo ou da narração que me escapam e por vezes dou comigo a andar à nora. Problemas auditivos à parte (também não coloco de lado o facto de estar a ficar mouca), estes filmes são fantásticos. Tão fantásticos que mal acabei de ver o primeiro, assisti também ao segundo apesar da hora tardia.

O primeiro passa-se em finais dos anos 90 e mostra sobretudo como opera o Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE) na luta contra o tráfico de droga. Seguimos o capitão Nascimento, que procura um substituto à sua altura enquanto prepara a visita do Papa a uma favela do Rio de Janeiro. Isto permite vislumbrar não só a recruta de oficiais e o treino desta unidade especial, digamos assim, como algumas das tácticas e técnicas empreendidas e facilmente condenáveis, como o uso do saco que é basicamente uma forma de tortura para sacar (haha!) informação.

O filme condena quem usa drogas, mesmo que leves para recreação (e é bastante duro nisto), e a tortura, não digo que seja glorificada, mas aparece como sendo justificada, o que sinceramente levanta bastantes questões. O BOPE encara toda a situação como uma guerra, aliás parece mesmo que estamos numa região em conflito e assusta-me pensar que tal coisa se passe numa cidade como o Rio de Janeiro, e como se trata de guerra vale quase tudo. Mas se é fácil condenar as atitudes policiais, sejam elas o uso da força ou as "blitz", também se deseja que o narcotráfico seja eliminado de qualquer forma. Que posição então tomar? Devo dizer que fiquei algo incomodada com isto, tal como o personagem principal, parece-me, que confessa no segundo filme não conseguir dizer porque e por quem é que mata pessoas, que o polícia não dispara sozinho.

O segundo tem lugar cerca de 13 anos depois do anterior e, como diz o subtítulo, o inimigo agora é outro. O tema da corrupção já tinha sido abordado no primeiro filme, em que ficamos a conhecer "o sistema", mas aqui atinge todo um outro nível, ligando política e a necessidade de votos em ano eleitoral às milícias, uma espécie de máfia que surge no vazio deixado pelo quase desaparecimento do narcotráfico, devido às investidas do BOPE nos morros e favelas da zona oeste. Sob a pretensão de protegerem a comunidade,  as milícias extorquem e exercem um maior domínio sobre o comércio local e controlo sobre a população, que vota nos candidatos que mais convêm. Vendo este filme não pude deixar de pensar no quão a corrupção parece se encontrar alastrada por todo o Brasil e as manifestações que têm vindo a ser notícia, sobretudo aquando da Taça das Confederações, são ainda melhor compreendidas.

São dois excelentes filmes, talvez dos melhores que vi este ano, e só os posso recomendar. É fácil esquecer que existe um Rio de Janeiro das favelas, um Rio em estado de sítio, um Rio que mais parece um palco de guerra, com tanta telenovela que mostra vidas e finais cor-de-rosa.

Veredito: Para ter na estante.

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