Os Pré-Rafaelitas
Mais um mês, mais uma desafiada para o Verdade ou Consequência! Decidi aceitar este desafio e, depois de se ter escolhido “Verdade”, ficou decidido eu escrever um texto sobre os Pré-Rafaelitas (claro, a Carla teve um dedinho nisto também hehehe). Como estava a fazer um trabalho no contexto desse movimento artístico, achei que podia unir o útil ao agradável.
Estamos na época das revoluções: Revolução Industrial, Revolução Francesa, Revolução Americana. Estamos, por isso, numa época de avanços tecnológicos, de desenvolvimento industrial mas, também, numa época de mudança de mentalidades, de revoluções artísticas e no reinado da monarca que viria a sentar-se no trono inglês por mais tempo: a Rainha Vitória.
A Irmandade Pré-Rafaelita foi formada em 1848 e os seus fundadores foram três: Dante Gabriel Rossetti, William Holman Hunt e John Everett Millais. Todos pintores, embora Rossetti também fosse poeta. O principal objectivo deste grupo era resgatar a arte da trivialidade em que eles consideravam ela ter caído, considerando que a tradição académica tinha tornado a pintura numa simples prática de determinadas convenções pictóricas cansativas. Assim, romperam com a Academia, neste caso a Royal Academy de Londres, fundada em 1768 e tornaram-se pintores à margem do que era produzido na altura.
Mas de onde vem o nome Pré-Rafaelita? Bom, estes pintores não queriam seguir o modelo clássico estabelecido na arte ocidental por Rafael e Miguel Ângelo. Queriam reportar-se a uma época anterior a Rafael (que nasceu em 1483 e morreu em 1520), ao período da Idade Média, recuperando, em termos de técnica, o uso das cores vivas. Neste sentido, os Pré-Rafaelitas usavam uma tela de fundo branco, tornando as cores mais luminosas, em vez da tela de fundo negro, como era habitual na época.
Deste modo, as principais características da pintura Pré-Rafaelita eram a maior atenção ao detalhe, a luminosidade da cor e o retrato da natureza de forma fiel, recusando o embelezamento do que era retratado. Além disso, como pretendiam reportar-se a uma época anterior a Rafael, os temas das suas pinturas variavam desde a mitologia clássica greco-romana, a lendas medievais como a lenda arturiana, a temas religiosos, ou simplesmente ao retrato da vida quotidiana vitoriana mas dando-lhe uma “roupagem” medieval.
Considerando tudo isto, há ainda a discussão se o movimento Pré-Rafaelita será um movimento de vanguarda ou não. Por um lado, rompeu com as convenções da época mas, por outro, foi recuperar outras que já tinham existido. A meu ver, foram um movimento de vanguarda porque, para além de romperem com o que estava estabelecido, conseguiram retratar a sua sociedade recorrendo a motivos medievais. E é isso que eu acho tão interessante neste movimento: o recorrer-se a uma época passada para retratar aquilo que acontece na contemporaneidade.
Os Pré-Rafaelitas tinham uma grande ligação com a literatura. A maior parte dos pintores era, também, escritor, sendo que os seus escritos eram publicados regularmente num periódico criado por eles próprios intitulado “The Germ”. Para além disso, eram profundamente influenciados pela literatura do Romantismo, Shakespeare e textos ligados à lenda arturiana, principalmente de Sir Thomas Malory e da sua obra Le Morte d’Arthur, publicado pela primeira vez em 1485. Por sua vez, outro escritor contemporâneo dos Pré-Rafaelitas e que os foi influenciar também, Alfred Lord Tennyson baseou-se nessa mesma obra de Malory para escrever o seu Idylls of the King.
Como tal, vários pintores retratavam cenas ou personagens da literatura e posso dar-vos alguns exemplos: Ophelia, de John Everett Millais (inspirado na personagem de Hamlet, de Shakespeare); The Beguiling of Merlin, de Edward Burne-Jones (retratando Merlin e Vivien, da lenda arturiana); La Belle Dame Sans Merci, de John William Waterhouse (motivo bastante popular entre os Pré-Rafaelitas, inspirado no poema com o mesmo nome, de John Keats); ou The Lady of Shalott, de William Holman Hunt (tema também muito retratado por este grupo, inspirado no poema de Alfred Lord Tennyson). Há, claro, muitas outras que eu podia enumerar, mas foram estas que me ficaram na memória e as que gostei mais.
Posto isto, penso que só me falta mencionar uma coisa, nesta espécie de introdução aos Pré-Rafaelitas: a mulher. Primeiro, de notar que havia duas mulheres pintoras neste grupo, muito bem aceites entre todos. Uma delas era Cristina Rossetti, irmã de Dante Gabriel Rossetti, e Elizabeth Siddal, que também serviu de modelo a Dante Rossetti. Para além disso, a mulher começou a ser retratada de forma diferente por estes pintores: era voluptuosa, vestia roupas largas e tinha cabelos soltos, sendo morena ou ruiva, algo que fugia aos padrões de beleza da época.
Assim, a mulher era retratada, essencialmente, de duas maneiras: como a mulher idealizada, contemplativa, virada sobre si própria ou como uma mulher vilificada, maléfica, feiticeira, “femme fatale”. Exemplos destas duas representações: Mariana, de John Everett Millais; e Medea, de Frederick Sandys, respectivamente. Esta obsessão pela mulher e, particularmente, para a “femme fatale”, deveu-se ao aumento de divórcios, do adultério, da prostituição, da luta pelos direitos da mulher, que veio pôr em causa a concepção comum de que a mulher era um ser sexualmente frígido e inocente. Deste modo, as mulheres começaram a ser consideradas tão susceptíveis aos apetites sexuais como os homens, provocando um questionamento sobre qual dos sexos seria o dominante.
Para quem quiser saber mais, deixo-vos aqui alguns sites que vos podem fornecer mais informações sobre os Pré-Rafaelitas.
Estamos na época das revoluções: Revolução Industrial, Revolução Francesa, Revolução Americana. Estamos, por isso, numa época de avanços tecnológicos, de desenvolvimento industrial mas, também, numa época de mudança de mentalidades, de revoluções artísticas e no reinado da monarca que viria a sentar-se no trono inglês por mais tempo: a Rainha Vitória.
Proserpine de Dante Gabriel Rossetti |
Mas de onde vem o nome Pré-Rafaelita? Bom, estes pintores não queriam seguir o modelo clássico estabelecido na arte ocidental por Rafael e Miguel Ângelo. Queriam reportar-se a uma época anterior a Rafael (que nasceu em 1483 e morreu em 1520), ao período da Idade Média, recuperando, em termos de técnica, o uso das cores vivas. Neste sentido, os Pré-Rafaelitas usavam uma tela de fundo branco, tornando as cores mais luminosas, em vez da tela de fundo negro, como era habitual na época.
Deste modo, as principais características da pintura Pré-Rafaelita eram a maior atenção ao detalhe, a luminosidade da cor e o retrato da natureza de forma fiel, recusando o embelezamento do que era retratado. Além disso, como pretendiam reportar-se a uma época anterior a Rafael, os temas das suas pinturas variavam desde a mitologia clássica greco-romana, a lendas medievais como a lenda arturiana, a temas religiosos, ou simplesmente ao retrato da vida quotidiana vitoriana mas dando-lhe uma “roupagem” medieval.
Considerando tudo isto, há ainda a discussão se o movimento Pré-Rafaelita será um movimento de vanguarda ou não. Por um lado, rompeu com as convenções da época mas, por outro, foi recuperar outras que já tinham existido. A meu ver, foram um movimento de vanguarda porque, para além de romperem com o que estava estabelecido, conseguiram retratar a sua sociedade recorrendo a motivos medievais. E é isso que eu acho tão interessante neste movimento: o recorrer-se a uma época passada para retratar aquilo que acontece na contemporaneidade.
Os Pré-Rafaelitas tinham uma grande ligação com a literatura. A maior parte dos pintores era, também, escritor, sendo que os seus escritos eram publicados regularmente num periódico criado por eles próprios intitulado “The Germ”. Para além disso, eram profundamente influenciados pela literatura do Romantismo, Shakespeare e textos ligados à lenda arturiana, principalmente de Sir Thomas Malory e da sua obra Le Morte d’Arthur, publicado pela primeira vez em 1485. Por sua vez, outro escritor contemporâneo dos Pré-Rafaelitas e que os foi influenciar também, Alfred Lord Tennyson baseou-se nessa mesma obra de Malory para escrever o seu Idylls of the King.
The Lady of Shalott de William Holman Hunt |
Posto isto, penso que só me falta mencionar uma coisa, nesta espécie de introdução aos Pré-Rafaelitas: a mulher. Primeiro, de notar que havia duas mulheres pintoras neste grupo, muito bem aceites entre todos. Uma delas era Cristina Rossetti, irmã de Dante Gabriel Rossetti, e Elizabeth Siddal, que também serviu de modelo a Dante Rossetti. Para além disso, a mulher começou a ser retratada de forma diferente por estes pintores: era voluptuosa, vestia roupas largas e tinha cabelos soltos, sendo morena ou ruiva, algo que fugia aos padrões de beleza da época.
Assim, a mulher era retratada, essencialmente, de duas maneiras: como a mulher idealizada, contemplativa, virada sobre si própria ou como uma mulher vilificada, maléfica, feiticeira, “femme fatale”. Exemplos destas duas representações: Mariana, de John Everett Millais; e Medea, de Frederick Sandys, respectivamente. Esta obsessão pela mulher e, particularmente, para a “femme fatale”, deveu-se ao aumento de divórcios, do adultério, da prostituição, da luta pelos direitos da mulher, que veio pôr em causa a concepção comum de que a mulher era um ser sexualmente frígido e inocente. Deste modo, as mulheres começaram a ser consideradas tão susceptíveis aos apetites sexuais como os homens, provocando um questionamento sobre qual dos sexos seria o dominante.
Para quem quiser saber mais, deixo-vos aqui alguns sites que vos podem fornecer mais informações sobre os Pré-Rafaelitas.
Este artigo foi escrito pela Diana, do blog Papéis e Letras, que assim respondeu a uma curiosidade minha. ;)
5 comentários:
Confesso a meu fraco conhecimento do movimento, para além do trabalho de J.W. Waterhouse, por isso gostei imenso do texto.
Quando estive em Londres, dirigi-me de propósito ao Tate Modern para ver o "The Lady of Shalott", mas infelizmente não estava em exposição. Acabei por comprar um livro sobre a vida dele, com imagens de várias das suas obras :)
Já somos duas! Apreciava o trabalho do Waterhouse mas nem sabia que se incorporava neste movimento, que desconhecia, até ler Possession da A.S. Byatt que só posso aconselhar. Foi aí que me apaixonei pelo movimento e quis saber um pouco mais. Aproveitei o facto da Diana estar a estudar o tema para a convidar a escrever e adorei o resultado. :)
Eu gostei bastante de ter participado e ainda bem que gostaram do texto! :)
Embora adore arte e história da arte, já me esqueci de quase tudo o que aprendi ao longo dos anos, e foi muito interessante ler sobre este movimento, especialmente porque adoro o estilo de arte que eles adoptaram.
Um post muito interessante. :)
Gostei muito de ler. Parabéns à Diana, este movimento artístico suscita-me alguma curiosidade e pude satisfazê-la com o texto. ;)
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