A Casa das Sete Mulheres
Depois da Célia do Estante de Livros, desta vez fui eu a desafiada a escolher “Verdade ou Consequência”. Escolhi Consequência, ficando assim “intimada” a ler um livro e escrever a minha opinião. A WhiteLady sugeriu-me o tema História, e como tenho na minha pilha muitos romances históricos o difícil foi escolher. O recém-adquirido (mas desejado há muito) A Casa das Sete Mulheres, de Leticia Wierzchowski, foi o escolhido.
Este livro retrata um período da História do Brasil que ficou conhecida como a Revolução Farroupilha, de uma perspectiva muito feminina. O descontentamento dos fazendeiros do Rio Grande do Sul, província do Império do Brasil, relativamente ao preço da carne e à escravatura negra, desencadeia uma revolta militar liderada pelo General Bento Gonçalves da Silva e com o apoio de outros militares, com o objectivo a deposição do Governador. Essa revolta evoluiu para uma Revolução anti-império, e através de uma série de acontecimentos e batalhas é proclamada a República do Rio Grande do Sul. Uma guerra entre Republicanos e Imperiais instala-se e parece não ter fim, que ficou conhecida como Revolução Farroupilha.
A Casa das Sete Mulheres é um romance que foi adaptado à televisão sob a forma de uma série de TV da Rede Globo. Quando vi a “novela”, em 2003, adorei e passei os 52 episódios agarrada a esta história de mulheres fortes e homens garbosos. Desde essa altura que tencionava ler o livro, mas a verdade é que nunca o vi à venda. Mais recentemente, nos últimos anos, procurei deliberadamente comprar uma cópia, mas não consegui encontrá-lo em lado nenhum. Tive imensa sorte em encontrá-lo no WinkingBooks, apesar de até o ler não saber bem quanta.
A verdade é que adorei este livro. A narrativa é deslumbrante e as personagens são magistralmente construídas. O ritmo da narrativa é por vezes errático, com avanços e recuos, pontos de vista da guerra e notícias que chegam de boca em boca, e cartas que são lidas antes dos acontecimentos que descrevem nos serem contados. A narração do ponto de vista de várias personagens é intercalada com os cadernos de Manuela, a protagonista e eterna Noiva de Garibaldi, que por sua vez tanto se referem ao tempo passado na estância como têm lugar décadas depois da guerra.
A escrita de Letícia Wierzchowski é deliciosamente descritiva. Quando lemos as linhas que enquadram a vida na estância quase que sentimos o vento minuano a soprar, os cheiros das plantas e o tom amarelo da paisagem. Quando nos é permitido visitar o cenário da guerra, as descrições são detalhadas e precisas, mas sempre incrivelmente bem escritas, numa prosa quase poética.
Sendo uma fan dos romances históricos, adoro a concretização do perfeito compromisso entre verdade histórica e o romance e a ficção. Este livro trouxe-me isso mesmo.
Além de um entretenimento viciante e ser praticamente uma “degustação” da linguagem, é também uma boa dose de História, que adorei experienciar.
Dei por mim a pesquisar na net mais informação sobre esta época da História brasileira, de tal forma a escrita me cativou para este tema. Além de ficar com uma noção bastante precisa do que significou este período da História do Brasil, e de me ter apaixonado pelas personalidades que lhe deram forma, senti-me conquistada pela riqueza da Língua Portuguesa. Neste livro deparei-me com imensas expressões regionais do Rio Grande do Sul, algumas usadas ainda hoje, que no português de Portugal são consideradas arcaicas. Deliciei-me com esta linguagem, e de facto o português é uma língua tão rica que é uma pena que algumas palavras deixem ter utilização corrente por cá.
A história começa com o convergir das personagens nos campos que vão constituir as duas frentes do rumo dos acontecimentos: enquanto os homens da família de Bento Gonçalves, o líder da Revolução Farroupilha, se reúnem para a guerra que se aproxima, as mulheres viajam das suas casas na cidade para se refugiarem da guerra na Estância da Barra, propriedade de D. Ana Joaquina, irmã de Bento Gonçalves. Com D. Ana viajam a irmã mais nova, D. Maria Manuela, e as suas três jovens filhas, Rosário, Mariana e Manuela. Juntamente com a cunhada D. Caetana, esposa de Bento, a filha mais velha, Perpétua e os 4 filhos crianças. Estas são as 7 mulheres que vão passar os anos da guerra numa estância no pampa gaúcho (juntamente com D. Antônia, irmã mais velha de Bento, Ana e Maria, proprietária da Estância do Brejo, a poucos minutos a cavalo da Estância da Barra). A história termina com o final da guerra, que se arrastou por 10 longos anos. Dez anos repletos de tristezas próprias da guerra, algumas alegrias, e principalmente acontecimentos que mudaram de forma irrevogável as vidas destas mulheres e da sua família.
O destino desta família é o reflexo do que aconteceu no Rio Grande nestes dez anos, uma região que não voltou a ser a mesma, tal como as pessoas que viveram esta guerra. O que aconteceu nestes dez anos, terão de descobrir por vós próprios. É um livro que recomendo sem reservas.
Uma nota final para referir que descobri no final da leitura que existe uma continuação publicada. Um Farol no Pampa é a continuação escrita por Letícia Wierzchowski, que infelizmente não está publicada em Portugal, mas que quero muito ler (e penso que será quase impossível encontrar A Casa das Sete Mulheres à venda nas livrarias, por isso não espero uma edição portuguesa). Estou a pensar mandar vir pela Wook a versão brasileira.
Este livro retrata um período da História do Brasil que ficou conhecida como a Revolução Farroupilha, de uma perspectiva muito feminina. O descontentamento dos fazendeiros do Rio Grande do Sul, província do Império do Brasil, relativamente ao preço da carne e à escravatura negra, desencadeia uma revolta militar liderada pelo General Bento Gonçalves da Silva e com o apoio de outros militares, com o objectivo a deposição do Governador. Essa revolta evoluiu para uma Revolução anti-império, e através de uma série de acontecimentos e batalhas é proclamada a República do Rio Grande do Sul. Uma guerra entre Republicanos e Imperiais instala-se e parece não ter fim, que ficou conhecida como Revolução Farroupilha.
A Casa das Sete Mulheres é um romance que foi adaptado à televisão sob a forma de uma série de TV da Rede Globo. Quando vi a “novela”, em 2003, adorei e passei os 52 episódios agarrada a esta história de mulheres fortes e homens garbosos. Desde essa altura que tencionava ler o livro, mas a verdade é que nunca o vi à venda. Mais recentemente, nos últimos anos, procurei deliberadamente comprar uma cópia, mas não consegui encontrá-lo em lado nenhum. Tive imensa sorte em encontrá-lo no WinkingBooks, apesar de até o ler não saber bem quanta.
A verdade é que adorei este livro. A narrativa é deslumbrante e as personagens são magistralmente construídas. O ritmo da narrativa é por vezes errático, com avanços e recuos, pontos de vista da guerra e notícias que chegam de boca em boca, e cartas que são lidas antes dos acontecimentos que descrevem nos serem contados. A narração do ponto de vista de várias personagens é intercalada com os cadernos de Manuela, a protagonista e eterna Noiva de Garibaldi, que por sua vez tanto se referem ao tempo passado na estância como têm lugar décadas depois da guerra.
A escrita de Letícia Wierzchowski é deliciosamente descritiva. Quando lemos as linhas que enquadram a vida na estância quase que sentimos o vento minuano a soprar, os cheiros das plantas e o tom amarelo da paisagem. Quando nos é permitido visitar o cenário da guerra, as descrições são detalhadas e precisas, mas sempre incrivelmente bem escritas, numa prosa quase poética.
Sendo uma fan dos romances históricos, adoro a concretização do perfeito compromisso entre verdade histórica e o romance e a ficção. Este livro trouxe-me isso mesmo.
Além de um entretenimento viciante e ser praticamente uma “degustação” da linguagem, é também uma boa dose de História, que adorei experienciar.
Dei por mim a pesquisar na net mais informação sobre esta época da História brasileira, de tal forma a escrita me cativou para este tema. Além de ficar com uma noção bastante precisa do que significou este período da História do Brasil, e de me ter apaixonado pelas personalidades que lhe deram forma, senti-me conquistada pela riqueza da Língua Portuguesa. Neste livro deparei-me com imensas expressões regionais do Rio Grande do Sul, algumas usadas ainda hoje, que no português de Portugal são consideradas arcaicas. Deliciei-me com esta linguagem, e de facto o português é uma língua tão rica que é uma pena que algumas palavras deixem ter utilização corrente por cá.
A história começa com o convergir das personagens nos campos que vão constituir as duas frentes do rumo dos acontecimentos: enquanto os homens da família de Bento Gonçalves, o líder da Revolução Farroupilha, se reúnem para a guerra que se aproxima, as mulheres viajam das suas casas na cidade para se refugiarem da guerra na Estância da Barra, propriedade de D. Ana Joaquina, irmã de Bento Gonçalves. Com D. Ana viajam a irmã mais nova, D. Maria Manuela, e as suas três jovens filhas, Rosário, Mariana e Manuela. Juntamente com a cunhada D. Caetana, esposa de Bento, a filha mais velha, Perpétua e os 4 filhos crianças. Estas são as 7 mulheres que vão passar os anos da guerra numa estância no pampa gaúcho (juntamente com D. Antônia, irmã mais velha de Bento, Ana e Maria, proprietária da Estância do Brejo, a poucos minutos a cavalo da Estância da Barra). A história termina com o final da guerra, que se arrastou por 10 longos anos. Dez anos repletos de tristezas próprias da guerra, algumas alegrias, e principalmente acontecimentos que mudaram de forma irrevogável as vidas destas mulheres e da sua família.
O destino desta família é o reflexo do que aconteceu no Rio Grande nestes dez anos, uma região que não voltou a ser a mesma, tal como as pessoas que viveram esta guerra. O que aconteceu nestes dez anos, terão de descobrir por vós próprios. É um livro que recomendo sem reservas.
Uma nota final para referir que descobri no final da leitura que existe uma continuação publicada. Um Farol no Pampa é a continuação escrita por Letícia Wierzchowski, que infelizmente não está publicada em Portugal, mas que quero muito ler (e penso que será quase impossível encontrar A Casa das Sete Mulheres à venda nas livrarias, por isso não espero uma edição portuguesa). Estou a pensar mandar vir pela Wook a versão brasileira.
Opinião escrita pela Cat SaDiablo, do blog A Bibliófila. Foi um prazer corresponder-me com ela e tudo por causa de um post! :D
3 comentários:
Já li este livro há uns anitos, porque gostei muito da mini-série, e lembro-me de ter gostado bastante :)
Deixo também a nota que existe outro livro da autora publicado em Portugal, de não-ficção, e que uma vez vi à venda numa pequena Feira do Livro... chama-se "Uma Ponte para Terenbin" e a editora é a Edi9.
http://www.wook.pt/ficha/uma-ponte-para-terebin/a/id/5101406
Lembro-me de a série ter passado mas não a segui. No entanto sempre tive curiosidade e quando a Cat o mencionou pensei para comigo "é mesmo este!" :D Já está na lista de livros a ler. :)
Célia, quanto terminei este livro comecei a ressacar, pus-me a procurar mais material da autora, e vi que tem esse livro editado pela edi9, Uma Ponte para Terenbin, que descreve a vida do seu avô e a emigração para o Brasil, mais propriamente para o Rio Grande do Sul. Apesar de não ser uma obra de ficção, a escrita da autora deve manter a mesma qualidade, por isso fiquei curiosa.
WhiteLady, obrigada eu pelo desafio. Foi uma bela maneira de me "obrigar" a pegar num livro da pilha, e ainda por cima ter tido o prazer de ler este livro que tanto gostei :)
Venha a próxima vítima! :P
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