16 de dezembro de 2008

Os Leões de Al-Rassan

Autor: Guy Gavriel Kay
Género: Fantasia histórica
Editora: Saída de Emergência | Nº de páginas: 547
Nota: 5/5

Resumo (da capa): Inspirado na História da Península Ibérica, Os Leões de Al-Rassan é uma épica e comovente história sobre amor, lealdades divididas e aquilo que acontece aos homens e mulheres quando crenças apaixonadas conspiram para refazer – ou destruir – o mundo.

Lar de três culturas muito diferentes, Al-Rassan é uma terra de beleza sedutora e história violenta. A paz entre Jaddites, Asharites e Kindath é precária e frágil, mas é precisamente a sombra que separa os povos que acaba por unir três personagens extraordinárias: o orgulhoso Ammar ibn Khairan – poeta, diplomata e soldado, o corajoso Rodrigo Belmonte – famoso líder militar, e a bela e sensual Jehane bet Ishak – física brilhante. Três figuras cuja vida se irá cruzar devido a uma série de eventos marcantes que levam Al-Rassan ao limiar da guerra.

Opinião: Devo afirmar que não conhecia o autor e só tomei conhecimento deste livro através de uma bastante favorável crítica escrita pela Canochinha, do blog Estante de Livros, ao mesmo. Mas ainda bem que lhe peguei, é mais um para juntar à lista dos melhores livros que li em 2008.

Nota-se claramente a influência da história da Península Ibérica neste livro, aquando da ocupação muçulmana do Sul (o denominado Al-Andalus), enquanto que a Norte se encontravam os reinos cristãos. A acção apesar de se passar num outro mundo, daí o elemento fantástico, se bem que muito parecido ao nosso com apenas a diferença de possuir duas luas, parece retratar o período de taifas, surgidas após a desagregação de dinastias unificadoras do Al-Andalus (o primeiro período de taifas surgiu após a desagregação do califado de Córdova) e que vieram a ser depois agregadas sobre os Almorávidas e posteriormente os Almoádas, dinastias do Norte de África de carácter fundamentalista, para quem os reinos taifas se viravam quando se viam em perigo de serem conquistados pelos reinos cristãos do Norte.

Neste livro temos então três povos diferentes, os jaditas do Norte (alusivo aos cristãos), os asharitas a Sul (correspondendo aos muçulmanos) e os kindates (correspondentes aos judeus que, na Península Ibérica fosse sob muçulmanos ou sobre o poder cristão, viviam em bairros, as chamadas judiarias, separados da maior parte da população que seguia a religião do poder central, tinham de pagar pesados impostos, e mesmo assim não se livravam de cair sobre eles a culpa por tudo o que acontecia de mal, daí existir períodos de conversões forçadas), que foram conseguindo coexistir em conjunto, apesar da grande tensão existente entre os mesmos. Seguimos três personagens, cada um deles sendo um representante destes povos, e que apesar de tudo conseguem ser amigos num claro exemplo de tolerância quando se luta por um objectivo comum. É esta a mensagem do livro.

«Acho que» murmurou Husari, «se tal pessoa existisse – e se conseguíssemos encontrar uma em Ragosa esta semana –, poderia muito bem dizer que nós representamos o que de melhor esta Península tem para oferecer. O valente Alvar e a minha pobre pessoa, tal como nos encontramos humildemente à sua frente, somos a prova de que esses homens oriundos de mundos diferentes podem combinar e unificar esses mesmos mundos. De que podemos pegar nas coisas mais requintadas de cada um deles, para formar um novo todo, brilhante e imperecível.»


Gostei muito da forma como o autor nos conta a história. Ao contrário do que costuma me acontecer, conforme vou lendo vejo a acção passar-se à minha volta (em relatos na terceira pessoa) ou sendo eu parte integrante nessa acção (em relatos na primeira pessoa), aqui era como se me tivessem a contar a história, como se a estivessem a declamar segundo uma tradição oral. O “Orador” faz um trabalho fenomenal, escondendo algumas partes da história e levantando umas pontas sem desvendar tudo, agarrando-nos da primeira à última página, fazendo-nos emocionar em determinadas partes de tanto que nos envolve na história. As personagens estão muito bem construídas, com defeitos e feitios como qualquer pessoa, e enquanto vamos seguindo as suas histórias, não podemos deixar de nos deixar ligar a elas e de as considerar como nossas conhecidas ou mesmo amigas.

Guy Gavriel Kay faz um trabalho excepcional neste livro. Não é só um autor, ele é um contador de histórias e estou ansiosa por conhecer as outras histórias que tem para contar.

6 comentários:

Célia disse...

Fico muito feliz que tenhas gostado, esperando que a minha opinião (e agora a tua também) possa influenciar mais pessoas a ler esta verdadeira pérola. É pena que livros tão bons continuem a passar ao lado da maioria das pessoas.

WhiteLady3 disse...

Eu já ando a fazer a minha parte, ando a chatear a minha mãe e toda a gente que quiser ouvir. :D Ando a fazer um pouco o que fiz com o Poison Study, mas enquanto posso emprestar esse, já não o posso fazer com este. :(

NLivros disse...

OLha, aí está um livro que, alicerçado nesta tua excelente opinião, me interessa.

Fica registado, uma leitura para 2009.

Já agora, a Canochinha refere ser pena que livros tão bons passem al lado dos leitores.

É um facto e isso se deve ao marketing que só é feito pelas grandes editoras e porque o meio crítico literário em Portugal é fraquíssimo e os poucos que existem andam quase sempre entretidos com os mesmos escitores.

Porém há depois os blogs e os fóruns como os nossos que dão vida e leitores a estes livros.

Temos que começar a exigir ser pagos pelas editoras.

;D

WhiteLady3 disse...

Temos que começar a exigir ser pagos pelas editoras.
lol Aceito o meu pagamento em livros!

Eu só conheci mesmo este livro depois de ter lido a crítica da Canochinha e este é o tipo de livros que me interessa. Se tivesse sido lançado com mais entusiasmo, digamos, de certeza que não teria passado ao lado. Eu nem me lembro de o ter visto à venda e a capa é por demais apelativa.

Gostaria de saber o que achaste se o chegares a ler. Acho que faz o teu género. ;)

slayra disse...

Já está na minha lista! ^___^ As críticas, primeiro da Canochinha e depois a tua fizeram com que o meu entusiasmo aumentasse! Eh eh.

Mas tenho tantos livros para ler que vai ser difícil ler este nos tempos mais próximos... *sigh*

WhiteLady3 disse...

Eu li-o assim tão depressa por acaso. Estava a pesquisar nas BLX e como estava emprestado, cliquei no botão reservar por impulso. :D Mal foi devolvido, telefonaram-me a dizer que estava disponível e fui buscá-lo. De outra forma, era capaz de ter levado mais tempo, como a série Primeiro Homem de Roma e a série Águia. Como não estão emprestadas, ainda não tive o impulso de as reservar. :D

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