Autor: Ursula K. Le Guin
Género: ficção científica
Editora: Publicações Europa-América | Nº de páginas: 156+156
Resumo (dos livros): No seu romance mais ambicioso e profético, Ursula K. Le Guin realizou um espantoso tour de force: a arrebatadora história de Shevek, um físico brilhante que tenta reunir sozinho dois planetas, separados um do outro por séculos de desconfiança.
Anarres, a pátria de Shevek, é uma lua árida, colonizada por uma civilização anarquista utópica; Urras, o planeta-mãe, é um mundo muito semelhante à Terra, com as suas nações beligerantes, grande pobreza e imensa riqueza. Shevek arrisca tudo numa corajosa visita a Urras - para aprender, para ensinar, para partilhar. Mas a sua dádiva transforma-se em ameaça... e no conflito profundo que daí resulta Shevek é forçado a reexaminar a sua filosofia de vida.
~*~
Eis que chegámos à segunda e última parte de Os Despojados. Assistimos na primeira parte à ida de Shevek para Urras, um planeta muito semelhante à Terra, com as suas nações beligerantes, grande pobreza e imensa riqueza.
Nesta segunda parte, Ursula K. Le Guin descreve-nos o conflito profundo de Shevek perante uma realidade completamente diferente do seu planeta-pátria, Anarres, dominado por uma civilização anarquista utópica.
Um romance profético e um espantoso tour de force da notável escrita de Ursula K. Le Guin, considerada pela crítica internacional uma escritora inteligente e excelente.
Opinião: Este ano tinha por objectivo participar em alguns bookclubs, bem talvez não participar activamente comentando e tal, mas lendo os livros e o que outros acharam dos mesmos, acompanhando a discussão de modo passivo. Isto sobretudo porque os bookclubs que pensava participar são em inglês e nem sempre me consigo exprimir convenientemente, e porque aquele em que mais tinha possibilidades de participar, por conseguir encontrar os livros nas BLX, é um género ao que não estou habituada - ficção científica. Mas achei que seria um desafio interessante ler os livros escolhidos e que tenho à disposição exactamente por saírem da minha zona de conforto, afinal de contas há que experimentar o desconhecido de vez em quando.
Foi por isto que peguei então nestes dois pequenos livros... e já agora um pequeno a parte, achei curioso ver que este livro por cá estava dividido e ainda por cima serem de tamanho tão pequeno, quando tantos criticam as opções das editoras portuguesas hoje, que dividem livros de 700 ou 800 páginas em dois. Nesta altura, penso que anos 80, ninguém criticava estas medidas? :P
Dizia então que peguei nestes livros, a escolha de Fevereiro do blog Dreams & Speculation, e não sabia bem o que esperar. Sobre o que trataria? As capas não deram nenhuma ajuda, pelo contrário, até me levaram a torcer o nariz algumas vezes, mas lá me decidi a ler, num momento em que pouco ou nada conseguia prender-me a atenção. E realmente foi um problema passar da primeira página, penso que a li 2 ou 3 vezes até conseguir prosseguir, mas depois de ler a segunda já só o conseguia colocar de lado quando exausta e cheia de sono.
Os Despojados tem como pano de fundo dois planetas, Anarres e Urras, sendo o primeiro como que uma colónia do segundo, para onde partiram os partidários de uma sociedade anarquista e solidária, desgostosos da sociedade capitalista do planeta de origem. Shevek tenta encetar um diálogo entre ambos e ao longo dos vários capítulos seguimos a sua história. Os capítulos alternam entre passado em Anarres, os capítulos pares, e o presente em Urras, capítulos ímpares, providenciando-nos uma visão e conhecimentos dos dois mundos.
No primeiro volume, a primeira metade do livro original, vemos o crescimento de Shevek em Anarres. Ficamos então a saber que apesar de a sociedade ser anárquica, ou seja não haver um governo, poucos problemas sociais há, sendo que todos se sacrificam para um bem comum, trabalhando no que gostam e participando ocasionalmente em trabalhos físicos para providenciar o necessário para a comunidade sobreviver. Mas nem tudo é tão igualitário como parece. Quem se atreve a pensar de forma diferente vê as suas pernas cortadas, por assim dizer, não conseguindo prosseguir os seus estudos, levando a um sentimento negativo, de que não contribui para a comunidade. Atinge por isso um muro. Shevek passa por tal experiência, chegando a pensar suicidar-se, quando é forçado a abrir os olhos para a realidade em que vive.
Já no que toca à acção passada em Urras, um planeta bastante semelhante à Terra pelo que é curioso ver como Shevek se adapta a um mundo tão diferente para ele mas tão semelhante para nós leitores, percebemos que desejam algo de Shevek e que aquilo que vemos não será bem assim. Shevek vê-se limitado em movimentos, não parece poder sair da faculdade em que está instalado, para ver alguma coisa do resto do planeta tem de ser acompanhado, é convidado para as festas em que estão sempre as mesmas pessoas... Enfim, estranhei que num país capitalista todos tenham roupas ricas e frequentem grandes festas, o que me leva a ponderar se a miséria não estará escondida.
E eis que o segundo livro começa exactamente com Shevek a ponderar se não estará “dentro de muralhas”, a ver o que querem que ele veja. Conhece então a outra face de Urras, onde é tido como um Messias, que os pode tirar do jugo capitalista para a sociedade viver de forma igual, justa e em liberdade. Pelo seu discurso inflamatório, por assim dizer, ao alimentar um sonho que tantos acalentam, vê-se no meio da maior crueldade, presenciando a força bruta usada para controlar as ideias e dissidentes. Mas a história em Anarres também não é feliz para Shevek, que entende então que na sua terra natal começa a existir um poder burocrático e central, mesmo que não tenha sido essa a intenção e propõe-se a construir uma “Anarres para além de Anarres”, continuando a revolução iniciada por Odo, já que a revolução em si própria não pode ter um fim, pois a estagnação e permite a emergência dos centros de poder.
O protagonista, e o próprio leitor ouso dizer, percebe então que não são os Anarresti que devem ir ter com os outros povos mas os outros povos a evoluírem e ir ter, de livre vontade e de mãos vazias, com a sociedade de Anarres. Que é o indivíduo que tem de perceber que a única coisa que pode dar aos outros é a sua própria pessoa, já que é só a si que possui.
Gostei bastante do livro, sobretudo pelo debate social mas a autora não se centra apenas em nisso. A diferença entre as duas sociedades é profunda, desde o uso e posse de objectos (Urras tem uma política de usar e deitar fora enquanto que Anarres não tem sentido de posse, tudo é partilhado) até à mentalidade, sendo um exemplo a diferente opinião sobre o papel das mulheres na sociedade.
Achei curioso o subtítulo “uma utopia ambígua” mas realmente, quanto mais conhecemos cada sociedade a nossa visão, tal como a de Shevek, vai mudando e percebemos que nenhuma é perfeita. Se uma parece esplendorosa devido à riqueza do próprio planeta, rico em sol, chuva, alimentos e vida natural, sabemos no entanto que há quem viva na pobreza e miséria; se a outra parece uma sociedade justa ainda que debatendo-se com dificuldades devido à pobreza do solo, o que inspira a entreajuda, vimos a descobrir que por detrás da igualdade existe um sistema de repressão que exclui quem não se adapta às regras que surgem espontaneamente em defesa de uma comunidade ideal, que o indivíduo não tem direito a ser tal se não se enquadrar na máquina social.
É um livro deveras interessante, que convida a pensar na nossa própria sociedade, sobretudo num momento em que parece tornar-se tão individualista. Devo confessar que por vezes me senti perdida, sobretudo na discussão das teorias físicas de Shevek, mas é sem dúvida um livro a ler.
Vale o dinheiro gasto: Estes livros foram emprestados, mas sem dúvida de que são para reler. O tema interessa-me bastante e a ambiguidade convida a pensar e a encontrarmos nós as respostas. Seremos capazes de deixar objectos para trás ou continuaremos a ser possuídos por eles? Podemos pedir tudo dos outros sem darmos algo em troca? Poderemos dar-nos sem pensar em receber algo? É o oferecer ou o receber que traz felicidade?
Género: ficção científica
Editora: Publicações Europa-América | Nº de páginas: 156+156
Resumo (dos livros): No seu romance mais ambicioso e profético, Ursula K. Le Guin realizou um espantoso tour de force: a arrebatadora história de Shevek, um físico brilhante que tenta reunir sozinho dois planetas, separados um do outro por séculos de desconfiança.
Anarres, a pátria de Shevek, é uma lua árida, colonizada por uma civilização anarquista utópica; Urras, o planeta-mãe, é um mundo muito semelhante à Terra, com as suas nações beligerantes, grande pobreza e imensa riqueza. Shevek arrisca tudo numa corajosa visita a Urras - para aprender, para ensinar, para partilhar. Mas a sua dádiva transforma-se em ameaça... e no conflito profundo que daí resulta Shevek é forçado a reexaminar a sua filosofia de vida.
Eis que chegámos à segunda e última parte de Os Despojados. Assistimos na primeira parte à ida de Shevek para Urras, um planeta muito semelhante à Terra, com as suas nações beligerantes, grande pobreza e imensa riqueza.
Nesta segunda parte, Ursula K. Le Guin descreve-nos o conflito profundo de Shevek perante uma realidade completamente diferente do seu planeta-pátria, Anarres, dominado por uma civilização anarquista utópica.
Um romance profético e um espantoso tour de force da notável escrita de Ursula K. Le Guin, considerada pela crítica internacional uma escritora inteligente e excelente.
Opinião: Este ano tinha por objectivo participar em alguns bookclubs, bem talvez não participar activamente comentando e tal, mas lendo os livros e o que outros acharam dos mesmos, acompanhando a discussão de modo passivo. Isto sobretudo porque os bookclubs que pensava participar são em inglês e nem sempre me consigo exprimir convenientemente, e porque aquele em que mais tinha possibilidades de participar, por conseguir encontrar os livros nas BLX, é um género ao que não estou habituada - ficção científica. Mas achei que seria um desafio interessante ler os livros escolhidos e que tenho à disposição exactamente por saírem da minha zona de conforto, afinal de contas há que experimentar o desconhecido de vez em quando.
Foi por isto que peguei então nestes dois pequenos livros... e já agora um pequeno a parte, achei curioso ver que este livro por cá estava dividido e ainda por cima serem de tamanho tão pequeno, quando tantos criticam as opções das editoras portuguesas hoje, que dividem livros de 700 ou 800 páginas em dois. Nesta altura, penso que anos 80, ninguém criticava estas medidas? :P
Dizia então que peguei nestes livros, a escolha de Fevereiro do blog Dreams & Speculation, e não sabia bem o que esperar. Sobre o que trataria? As capas não deram nenhuma ajuda, pelo contrário, até me levaram a torcer o nariz algumas vezes, mas lá me decidi a ler, num momento em que pouco ou nada conseguia prender-me a atenção. E realmente foi um problema passar da primeira página, penso que a li 2 ou 3 vezes até conseguir prosseguir, mas depois de ler a segunda já só o conseguia colocar de lado quando exausta e cheia de sono.
Os Despojados tem como pano de fundo dois planetas, Anarres e Urras, sendo o primeiro como que uma colónia do segundo, para onde partiram os partidários de uma sociedade anarquista e solidária, desgostosos da sociedade capitalista do planeta de origem. Shevek tenta encetar um diálogo entre ambos e ao longo dos vários capítulos seguimos a sua história. Os capítulos alternam entre passado em Anarres, os capítulos pares, e o presente em Urras, capítulos ímpares, providenciando-nos uma visão e conhecimentos dos dois mundos.
No primeiro volume, a primeira metade do livro original, vemos o crescimento de Shevek em Anarres. Ficamos então a saber que apesar de a sociedade ser anárquica, ou seja não haver um governo, poucos problemas sociais há, sendo que todos se sacrificam para um bem comum, trabalhando no que gostam e participando ocasionalmente em trabalhos físicos para providenciar o necessário para a comunidade sobreviver. Mas nem tudo é tão igualitário como parece. Quem se atreve a pensar de forma diferente vê as suas pernas cortadas, por assim dizer, não conseguindo prosseguir os seus estudos, levando a um sentimento negativo, de que não contribui para a comunidade. Atinge por isso um muro. Shevek passa por tal experiência, chegando a pensar suicidar-se, quando é forçado a abrir os olhos para a realidade em que vive.
Já no que toca à acção passada em Urras, um planeta bastante semelhante à Terra pelo que é curioso ver como Shevek se adapta a um mundo tão diferente para ele mas tão semelhante para nós leitores, percebemos que desejam algo de Shevek e que aquilo que vemos não será bem assim. Shevek vê-se limitado em movimentos, não parece poder sair da faculdade em que está instalado, para ver alguma coisa do resto do planeta tem de ser acompanhado, é convidado para as festas em que estão sempre as mesmas pessoas... Enfim, estranhei que num país capitalista todos tenham roupas ricas e frequentem grandes festas, o que me leva a ponderar se a miséria não estará escondida.
E eis que o segundo livro começa exactamente com Shevek a ponderar se não estará “dentro de muralhas”, a ver o que querem que ele veja. Conhece então a outra face de Urras, onde é tido como um Messias, que os pode tirar do jugo capitalista para a sociedade viver de forma igual, justa e em liberdade. Pelo seu discurso inflamatório, por assim dizer, ao alimentar um sonho que tantos acalentam, vê-se no meio da maior crueldade, presenciando a força bruta usada para controlar as ideias e dissidentes. Mas a história em Anarres também não é feliz para Shevek, que entende então que na sua terra natal começa a existir um poder burocrático e central, mesmo que não tenha sido essa a intenção e propõe-se a construir uma “Anarres para além de Anarres”, continuando a revolução iniciada por Odo, já que a revolução em si própria não pode ter um fim, pois a estagnação e permite a emergência dos centros de poder.
O protagonista, e o próprio leitor ouso dizer, percebe então que não são os Anarresti que devem ir ter com os outros povos mas os outros povos a evoluírem e ir ter, de livre vontade e de mãos vazias, com a sociedade de Anarres. Que é o indivíduo que tem de perceber que a única coisa que pode dar aos outros é a sua própria pessoa, já que é só a si que possui.
Gostei bastante do livro, sobretudo pelo debate social mas a autora não se centra apenas em nisso. A diferença entre as duas sociedades é profunda, desde o uso e posse de objectos (Urras tem uma política de usar e deitar fora enquanto que Anarres não tem sentido de posse, tudo é partilhado) até à mentalidade, sendo um exemplo a diferente opinião sobre o papel das mulheres na sociedade.
Achei curioso o subtítulo “uma utopia ambígua” mas realmente, quanto mais conhecemos cada sociedade a nossa visão, tal como a de Shevek, vai mudando e percebemos que nenhuma é perfeita. Se uma parece esplendorosa devido à riqueza do próprio planeta, rico em sol, chuva, alimentos e vida natural, sabemos no entanto que há quem viva na pobreza e miséria; se a outra parece uma sociedade justa ainda que debatendo-se com dificuldades devido à pobreza do solo, o que inspira a entreajuda, vimos a descobrir que por detrás da igualdade existe um sistema de repressão que exclui quem não se adapta às regras que surgem espontaneamente em defesa de uma comunidade ideal, que o indivíduo não tem direito a ser tal se não se enquadrar na máquina social.
É um livro deveras interessante, que convida a pensar na nossa própria sociedade, sobretudo num momento em que parece tornar-se tão individualista. Devo confessar que por vezes me senti perdida, sobretudo na discussão das teorias físicas de Shevek, mas é sem dúvida um livro a ler.
Vale o dinheiro gasto: Estes livros foram emprestados, mas sem dúvida de que são para reler. O tema interessa-me bastante e a ambiguidade convida a pensar e a encontrarmos nós as respostas. Seremos capazes de deixar objectos para trás ou continuaremos a ser possuídos por eles? Podemos pedir tudo dos outros sem darmos algo em troca? Poderemos dar-nos sem pensar em receber algo? É o oferecer ou o receber que traz felicidade?
6 comentários:
Hii, acho que o meu pai é capaz de ter praqui esses livros... algures... não sei.
Tens razão, muitos dos livros destas colecções da Europa-América e Livros do Brasil estão divididos em 2 volumes, mesmo sendo bastante pequenos. O_O
Quanto à história, estou a ver que parece interessante... o velho debate Capitalismo versus Comunismo (se bem que uma versão liberal e anarquista do mesmo); vê-se mesmo que foi escrito, quando, para aí nos anos 70? Tenho de ver se os encontro. ^__^
Sim, foi escrito em 1974. :D Eu gostei bastante da visão dela, parece coadunar-se com a minha em certos aspectos. Se os encontrares lê! Adorava falar sobre eles! :)
Estes livros estão naquele formato bem pequenino e têm mesmo aspecto de antiguidade não é? Na feira do livro há sempre uma bancada enorme cheia deles e a preços escandalosos (50 cêntimos/1 euro...qualquer coisa assim) *.*
E então, que achaste da Ursula? É para continuar a ler os livros dela? Há uma pessoa que me está sempre a falar desta senhora, mas nunca cheguei a experimentar.
Já ouvi falar muito bem deste(s) livro(s). Já agora, que tal estava a tradução? É que já ouvi falar mal das traduçõe sdesta colecção.
Nota: Realmente, não faz sentido dividir um livro tão curto em dois (e de certeza que antigamente também se queixavam), mas esta editora fez muito isso.
Jen, são esses mesmo. Se calhar vou comprá-los na Feira. Gostei da Ursula, sou bem capaz de continuar a ler, pelo menos queria experimentar The Left Hand of Darkness que se insere no ciclo dos Hainish, de que estes livros também fazem parte, e a série Earthsea que também está traduzida por cá.
Ana, realmente a tradução não será das melhores, mas não tive grandes problemas. Fez-me mais confusão o PS - Eu Amo-te. :S
OLÁ
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