Autor: Ronald Reng
Não Ficção | Tema: biografia
Editora: Lua de Papel | Ano: 2012 (originalmente publicado em 2011) | Formato: livro | Nº de páginas: 424 | Língua: português
Como me veio parar às mãos: foi-me oferecido pelo meu irmão, que consegue ser um fofo.
Quando e porque peguei nele: 10 a 21/novembro. Tinha recebido o livros uns dias antes e como dia 10 fazia 3 anos desde que o Enke pôs termo à sua vida, quis tentar perceber o porquê de escolha tão drástica, se é que a compreensão é possível.
Citações:
“Se tivesses a minha cabeça durante meia hora, ficarias a saber como eu me sinto.”
“Há muitas coisas que mexem dentro de uma pessoa e que a devoram, porque em caso algum podem ser desabafadas”
Opinião: Era fã deste jogador desde que ele veio para o Benfica e segui aí a sua carreira de forma muito atenta. Depois de ele ter ido para o Barcelona deixei de seguir tanto, mas sempre que via ou ouvia alguma menção deixava o que estava a fazer para prestar atenção, e foi assim que fui sabendo que não teve tanto sucesso como esperava nos clubes pelos quais foi passando, havia tido uma filha que veio a falecer devido a problemas cardíacos congénitos e que tinha finalmente encontrado o seu lugar no Hannover 96, tendo sido reconhecido como um dos melhores guarda-redes a atuar na Bundesliga, de tal maneira que era apontado como principal candidato à baliza da seleção germânica no Mundial de 2010. Porque é que quando parecia correr-lhe tudo bem, tinha mesmo adotado uma nova filha, resolveu pôr fim à sua vida?
A pergunta parece continuar sem ter uma resposta, o livro não a dá nem tenta responder (jamais alguém pode responder, parece-me), mas ajuda a perceber como é que uma cabeça trabalha, ou não trabalha, quando alguém sofre de depressão. Ainda há muitas dúvidas sobre esta doença, mesmo no que toca ao que a faz despoletar (stress, propensão genética?) mas aqui temos um relato de como se vive com ela, não só do ponto de vista do jogador, que deixou diários que ajudam a perceber pelo que estava a pensar e como se sentia (ou não sentia sequer), mas também de quem viveu de perto com ele os períodos mais negros (2003 e 2009) como o seu empresário/amigo e, sobretudo, a mulher Teresa Enke.
Este livro tem a capacidade de abrir os olhos ao leitor não só para a depressão mas em outros aspetos. Robert Enke, que era visto como um guarda-redes frio, que lidava bem com a pressão em campo frente a adversários, afinal não seria assim tão seguro, sendo bastante crítico de si mesmo e quebrando sob a tensão fora das quatro linhas. Quantas outras pessoas não serão assim? Também fiquei com a ideia de que talvez não seja tão salutar assim fazer profissionalmente o que se adora, nomeadamente quando existe uma pressão exterior enorme, mas vai daí há pressão em todo o lado. Dentro do futebol fica a nota de que a visão que se tem, ou pelo menos eu tinha até há uns anos atrás, é algo romanceada. De fora parece muito bonito, com os jogadores a serem muito bem pagos para jogarem 90 minutos por semana deslumbrando o público, mas a pressão a que estão submetidos é imensa, nem todos conseguem chegar ao topo, a competição consegue ser feroz e altamente individualista, podendo o jogador passar de herói a besta na sequência de um único lance infeliz, deitando por água abaixo uma carreira que se via fenomenal até aí.
O livro ganhou um prémio internacional no âmbito de livro desportivo e realmente aconselho, não só a quem gosta de futebol ou desporto mas a toda a gente, para que fique a saber um pouco mais sobre essa doença que é a depressão, que chega a ser altamente incapacitante, não tem cura e pode aparecer quando menos se espera, mesmo quando parece, aos olhos de todas outras pessoas, que se tem tudo o que jamais se poderia desejar.