Ficção | Género: Ficção Histórica
Editora: Edições Asa | Ano: 2008 (publicado originalmente em 2003) | Formato: livro | Nº de páginas: 432 | Língua: português
A primeira espécie de leitura conjunta correu tão bem, exceptuando a parte em que nem eu nem a Slayra do "Livros, Livros e mais Livros" parece ter apreciado assim tanto a leitura, e foi tão giro de fazer, que resolvemos passar a fazer disto um hábito. Ou pelo menos tentar fazer disto um hábito. :D
Desta feita, andávamos a passear por livrarias, como sempre, quando surgiu-nos a ideia de ler este livro que, segundo várias opiniões, tinha uma capa enganadora. Apesar de parecer um livro de romance leve e cor-de-rosa, contaria a vida de uma convicta que teria sido deportada para Nova Gales do Sul, Austrália, numa tentativa de colonizar aquele território.
Apesar de se debruçar sobre um tema que poderia interessar a ambas e contar com uma personagem feminina inteligente e forte, o certo é que mais uma vez não ficámos convencidas com a leitura.
WhiteLady: Teste, teste! Vê lá se consegues escrever alguma coisa :D
slayra: teste. TESTE! *bate no microfone*
Declaro oficialmente aberta a discussão sobre o livro Nunca me Esqueças da Lesley Pearse (estou-me sempre a lembrar da amiga da Pocahontas a dizer “nunca... esqueças... esta terra”). Mas espera, quem tem de declarar esta discussão aberta és tu, WhiteLady, que és a dona do documento. *afasta-se devagarinho*
WhiteLady: LOL Ainda não acabei o livro, estou a chegar a meio, mas meu Deus como a mocinha é irritante! Já perdi a conta às vezes que ela, ou outra pessoa qualquer, diz que é mais inteligente e limpa que todas as outras e como elas têm inveja! E está sempre a dizer como o Will é alto e loiro, e como o Tench é simpático. Já revirei os olhinhos tantas vezes.
slayra: ahahah, estás a ver-me a escrever em tempo real? Eheh. Bem, concordo 100% é mesmo irritante a Mary [Sue]. xD
Não sei se já chegaste à parte em que o Will deixa de ser mais que perfeito. É uma justificação para a Mary ser mais uma vez, heróica e fixe. :P
WhiteLady: Se te referes à parte em que ele é açoitado por roubar peixe para vender, sim. Também não gostei de como ela podia “vender o corpo” a troco de roupa e comida, mas valha-nos Deus se as outras querem ter sexo com tudo o que anda ou em troca de bebida! Ok, não será a coisa mais aconselhável de se fazer, mas irritou-me que o seu propósito fosse considerado bom, apesar de acabar por usar as pessoas, e as restantes fossem vilipendiadas quando o faziam pela mesma razão, mesmo que quisessem em troca outras coisas.
Mary Bryant, interpretada por Romola Garai, na minisérie The Incredible Journey of Mary Bryant |
WhiteLady: Sim, isso também me irritou. Mas há alguns que até eram boas pessoas, roubam para não passar fome, mas acabam na forca por não serem tão engenhosos como a nossa heroína. A sério, ela lembra-me tanto a Ayla, dos Filhos da Terra, que estava à espera que ela aprendesse a linguagem dos nativos de um dia para o outro, como quase acontece! xD E o que dizer de ela engravidar para segurar o Will? E não me venham dizer que é para sobreviver... Ela é, raios falta-me a palavra... Mas não é moralmente boa, o facto de ter que sobreviver não desculpa todos os seus actos.
slayra: Maquiavélica? xD Lol, exagero, mas sim, acho que há uma distinção demasiado vincada entre a Mary e os “outros”. Não a condenaria por esse acto normalmente, porque compreendo que de acordo com a situação e a época era o que ela podia fazer para sobreviver, mas também não percebo porque é que a autora sente a necessidade de fazer ver o leitor que a Mary toma decisões moralmente duvidosas porque “tem que ser” e os outros fazem-no porque têm pouca moralidade. Sinceramente e realisticamente penso que todos o fazem por razões semelhantes... :P
WhiteLady: Devia ter atenção ao que escreves. :D Não tinha reparado que já estava noutra página.
Exacto, todos roubam para sobreviver, agora quando ela faz é bom e quando são os outros ainda bem que são castigados, é bem feita para eles, é muito mau. Revela pouca sensibilidade. Além disso, ela é vista como uma heroína porque exigia coisas e tal para o bem comum, mas vai-se a ver é o seu próprio umbigo que tenta proteger e salvaguardar. Já teria colocado o livro de lado, mas acaba por fornecer uma boa visão, a meu ver, de como a colonização da Austrália foi feita, tema que até agora nunca vi explorado. Aliás, nunca li nada sobre colonização, a não ser nos livros de história, e estou a gostar de ler sobre as dificuldades que enfrentaram. Estaria o governo inglês à espera de uma colonização bem conseguida sem mandar artífices experientes e trabalhadores agrícolas? Eram assim tão ingénuos? Se calhar pensavam: “ah e tal, como não têm nada vão ter que se desenrascar e com o desenrascanço vem progresso” mas não deixa de ser um pensamento ingénuo, tendo em conta as incertezas sobre a fertilidade da terra e a viabilidade de culturas, e a existência ou não de fontes de água doce.
slayra: É verdade. É a primeira vez que leio um livro sobre este tema. Na verdade não sei muito sobre o assunto e foi uma leitura esclarecedora, se bem que é daqueles livros que leio com algum cuidado. Parece-me que a autora tomou algumas liberdades com o período.
Penso que a Austrália era sobretudo um local conveniente onde “largar” os indesejáveis da sociedade. Talvez o governo tenha tido em conta o facto de ser um território pouco viável em termos agrícolas e tenha decidido fazer uma experiência. Se resultasse, óptimo, se não... sempre tinham um local para despejar todo o tipo de criminosos. Duvido que tenham conseguido muitos voluntários para colonizar a terra.
WhiteLady: Realmente, acredito que não houvesse muita gente disposta a abandonar tudo para ir para o outro lado do mundo, sem terem a certeza que seriam bem sucedidos. Mas tendo em conta que muita gente vivia em dificuldades, a promessa de terra e casa poderia ser aliciante. E já não digo o “formarem” os criminosos. Dá ideia que os deixam andar como querem e no entanto dão-lhes os alimentos racionados. Devia ser “trabalhas, comes” mas da maneira que é descrito, pouco ou nada fazem. O_o Mas vai daí pode dever-se à parte em que eu estou.
slayra: Não, penso que os condenados eram muito maltratados, quase como escravos, mas também não me parece que os oficiais vivessem muito melhor.
WhiteLady: Ok, está decidido, para a próxima escolhes tu o livro porque acho que, mais uma vez, não vou acabar a leitura. Sinto-me culpada por tal, porque esta até devia ser uma heroína à minha medida pois é inteligente, strong willed e, apesar de não andar à porrada, não se deixa ser pisada. Mas irrita! Irrita que volta e meia tanto a Mary como as restantes personagens enumerem todas as suas virtudes e qualidades. Irrita que mais ninguém para além de Mary pareça ter um Tico e um Teco. Irrita que a Mary seja “oh tão boa e a mais capaz de entre todos!” Chegam a chamar-lhe “Virgem Maria” pelo amor de Deus! *massive eye roll* É, praticamente, a rainha das Mary Sues! É pena. Um pouco mais de humildade e penso que teria gostado da personagem. Assim, juntando-se à suposta moralidade (em que condena os outros mas é capaz de fazer o mesmo), deixa-me sem qualquer tipo de curiosidade para saber o que o futuro lhe reserva, até porque acho que daqui a pouco os homens no barco instituem a religião da Mary Bryant e já estou farta dos louvores que lhe fazem...
É verdade, não chegámos a falar da capa...
slayra: Lol, não sei se terei mais sorte do que tu na escolha de um livro. xD Nah, no problem, se não gostas não leias, assim perdes tempo que podias estar a utilizar para fazer outras coisas.
Realmente é uma pena que a Mary seja tão irritantemente perfeita porque a história em si poderia ser interessante...
Quanto à capa (e à sinopse) acho que é (são) das coisas mais enganadoras que já vi. Esperava um livro completamente diferente. Antes de ler a sinopse esperava um romance contemporâneo; depois de ler a sinopse esperava um romance histórico daqueles mais leves.
De leve isto tem pouco; aliás, uma das coisas que me incomodou foi o facto do Will de repente se tornar um grande vilão chegando ao ponto (não sei se já leste esta parte) de violar a Mary. Não tem nada a ver com o tipo de pessoa que ele era no início; acho que a personagem está a agir como se fosse uma pessoa completamente diferente. :P Tudo para que a Mary possa ser moralmente superior no fim quando o “perdoa” (o que para mim só faz pior; este tipo de coisas não se “perdoa” nem se justifica). Ao mesmo tempo a autora sujeita a personagem principal a muito mais degradação do que seria necessário, na minha humilde opinião.
WhiteLady: Também me sinto enganada quanto à capa e à sinopse. Já agora, até onde vai ela por amor? E amor a quem? Aos filhos? Will? Tench? Detmer ou lá como se chama o holandês? Ou vai até ao fim do mundo por amor a si própria? :D Sim, li a parte da violação e achei toda essa parte ridícula. Andam a lutar pela vida e o homem pensa que toda a gente quer comer a sua mulher? Achava que ela ia meter-lhe os cornos mesmo debaixo do nariz? Com gente com quem têm de estar 24h por um período de tempo indefinido? A sério, era mesmo em sexo que iam pensar quando andavam a lutar pela vida?! Mas vai daí, nunca tive na situação deles e já sabemos que criminosos não se regem pelas mesmas leis que a Mary, ou pelo menos quando convém à autora/história... *assobia inocentemente* Quanto à degradação, é só para mostrar quanto mais superior ela é. Não basta ser mais bela, mais limpa, mais inteligente... é a mais compassiva, é aquela que é capaz de perdoar os mais terríveis atos cometidos contra a sua pessoa... Não admira que lhe chamem Virgem Maria de tão pura e dócil que é...
slayra: Ou seja, mais uma leitura que foi para o galheiro. :P Sinceramente começo a questionar a qualidade dos autores que se publicam em Portugal. Mas talvez outros livros da autora sejam melhores. No entanto acho que esperar personagens minimamente complexas não é pedir muito. Estava a pensar que o próximo livro a ler (quando quiseres) pode ser aquele do Pride, Prejudice and Platypus; pelo menos esse já sabemos de antemão que vai ser ridículo... or do we? xD
WhiteLady: Comigo há muitas leituras que têm ido para o galheiro este ano. Sinto que realmente estou a ficar mais exigente com as histórias e, sobretudo, com as personagens porque, como tu, acho que não é pedir muito personagens com algo mais substancial. As pessoas cometem erros e não são perfeitas, porque insistem em escrever personagens tipo Mary Sues?
Há mais alguma coisa que queiras focar, tendo lido o livro todo? Não? Então ficamos por aqui. :D
E sim! Pride, Prejudice and Platypus parece-me uma excelente escolha! :D
WhiteLady - Não acabei
Slayra - 1.5 estrelas
Curioso, demos as mesmas notas que na outra leitura. xD
5 comentários:
*facepalm* Olha que temos azar com os livros, hein? As personagens são sempre umas parvas. :P Algumas partes deste livro fizeram-me impressão e penso que eram desnecessárias. :/
Verdade. xD Eu achei que era desnecessário as INÚMERAS repetições. Que partes fizeram impressão? As do barco?
Como expliquei, o facto de a autora recorrer à degradação repetida da personagem para inspirar sentimentos de simpatia e pena no leitor. :/
Clap! Clap!
Muito bom. Gostei imenso desta discussão. Ainda me ri um bocado com a vossa análise.
E, de facto, eu também já me tornei muito exigente, razão pela qual muitas leituras supostamente boas me têm desiludido.
Slayra, ah! Pois, sabes como são os leitores, têm de ter pena da personagem principal, caso contrário não se identificam e tal... Bah!
Iceman, ainda bem que gostaste. Temos tentado discutir como se fosse uma conversa de café e temo-nos divertido bastante com isto. É bom saber que quem lê também se diverte. :D
Até há algum tempo as minhas desilusões prendiam-se mais por ter altas expetativas para os livros, mas agora sinto que é mesmo por ter pouca paciência para algumas histórias, personagens e atitudes. Assim, quando a leitura não me está a dar nada mais que nervos e parece que cada vez que pego no livro vou para o "castigo", tenho optado por desistir.
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