15 de agosto de 2012

Verdade ou Consequência? (8)

A Midsummer Night's Dream

Nunca tinha lido nada de Shakespeare. Em minha defesa, devo dizer que a minha experiência com peças de teatro, nomeadamente "Felizmente há Luar" de Luís de Sttau Monteiro e "Look Back in Anger" de John Osborn não foi das melhores. Compreendo que tenha de haver livros de leitura obrigatória no ensino secundário (afinal é importante que os miúdos tenham hábitos de leitura, etc e blah blah), mas pessoalmente acho que darem-nos a ler este tipo de livros (e incluo os Maias, o Amor de Perdição e o Memorial do Convento do Saramago, que parece que é o livro que se lê hoje em dia em vez dos Maias ou da Aparição ou algo do género) é uma forma quase 100% efetiva de 1. fazer com que os miúdos detestem os livros e entrem na leitura (e saiam dela) a detestá-los e 2. Matar à nascença qualquer tipo de interesse que os já referidos miúdos possam ter pela leitura.

Mas enfim, isso é outro assunto que daria pano para mangas, mas que não é o assunto sobre o qual me vou pronunciar.

As peças de Shakespeare. Certo. Ora bem, não sou grandemente versada em literatura da época (século XVI). De facto, a única experiência que tive, que se pode comparar minimamente à leitura de uma peça de Shakespeare foi a leitura de uma peça de Gil Vicente na escola preparatória (será que ainda fazem destas hoje em dia? Mandar putos de 12 e 13 anos ler Gil Vicente?). Escusado será dizer que muito pouco me lembro do "Auto da Barca do Inferno", exceto que metia o Diabo e um Anjo e uma data de outras personagens.

Shakespeare, como se sabe, é um senhor muito conhecido atualmente e parece que também era na época. Escreveu uma data de peças de teatro que foram encenadas num teatro que parece, hoje é famoso (The Globe). A rainha Isabel I gostava muito de teatro, o teatro foi importante durante o seu reinado, etc e blah blah. Se virem o filme "A paixão de Shakespeare" vem lá tudo explicado.

Mesmo que nunca tenham lido nada de Shakespeare de certeza que já ouviram falar do Romeu e da Julieta, um dos casais fictícios mais famosos da História dos casais fictícios. Apaixonaram-se e tal, mas as famílias não os deixaram casar e não digo o resto porque é spoiler. De qualquer modo o Leonardo Di Caprio fez de Romeu numa adaptação cinematográfica desta peça por isso se não vos apetecer ler, podem ver o filme (diz que mete armas e gangues).

Com isto tudo já perceberam que sou quase totalmente ignorante em relação à obra de Shakespeare. Para além de conhecer os títulos das suas peças mais famosas (Romeu e Julieta, MacBeth e o Mercador de Veneza), pouco mais sei. Sei que ele era bem-parecido e que se apaixonou pela Gwyneth Paltrow (vi "A Paixão de Shakespeare" como toda a gente), no fim acabou por se casar com a Anne Hathaway (true story, vão ver à net) mas de resto... nada.

Então porquê ler Shakespeare, e esta peça (Sonho de uma Noite de Verão, em português) em particular? Bem, como sempre, começa tudo com outro livro. Ou mais especificamente com uma série. A série Iron Fey de Julie Kagawa. Nessa série há uma personagem chamada Robin Goodfellow. E de cada vez que ele é apresentado a alguém, esse alguém abre desmesuradamente os olhos e diz "O Robin Goodfellow? Puck? O que aparece em Sonho de uma Noite de Verão?" ao que o Robin responde inavariavelmente que sim senhora é ele mesmo. O famoso Puck.

Pois claro que tinha de ir ler a peça e ver como é que o Shakespeare caracterizava o famoso Puck.

E digo-vos; vale a pena ler Shakespeare. Especialmente se se tiver em conta a situação política e social da época. Segundo consegui apurar, Sonho de uma Noite de Verão é uma das peças mais "leves" deste autor, mas mesmo assim a irreverência da sua escrita é óbvia. Muito mesmo.

Scene from Midsummer Night's Dream: Titania and Bottom de Sir Edwin Landseer

Esta peça passa-se em Atenas, e tem como protagonistas um grupo de personagens muito distintas: Theseus, herói e rei; Demetrius e Lysander os protagonistas masculinos e Hermia e Helena as heroínas. E claro, as fadas: Oberon e Titania e o servo daquele, Puck. Para além disso temos uma troupe de actores. Todas estas personagens se vão ver envolvidas num mal-entendido de proporções épicas quando Puck aplica uma poção do amor que gera confusão pois Demetrius e Lysander, ambos apaixonados por Hermia ficam de repente loucos por Helena. Titania também é afectada e apaixona-se por um humano (um dos membros da troupe) burro (literalmente). Isto dá origem a muitos actos de parvoíce por parte de todos os envolvidos.

A peça tem um ambiente etéreo (enfim, mete fadas) que me agradou imenso, e involve montes de gente a dormir por todo o lado. Talvez a mensagem seja "antes de te comprometeres por amor, dorme 12 horas e pode ser que ganhes juízo acordes com uma nova perspectiva"? Quem sabe.

Não sei bem quais os temas retratados nesta peça. Li-a por diversão, por curiosidade. Posso talvez aventurar-me a dizer que o tema é basicamente as parvoíces e actos irreflectidos que cometemos e a que nos sujeitamos por amor. Pois não diz Puck:
"Lord, what fools these mortals be!"

Shakespeare escreve de forma humorística e inteligente; mesmo tendo em conta o facto de que é uma peça, cujo objetivo é ser representada, lê-se extremamente bem. Claro que me custou um pouco a entrar na leitura porque a linguagem é um pouco diferente daquilo a que estou habituada. Mas é uma leitura que recomendo a quem queira passar um bom bocado e queira ler sobre heroínas que demonstram mais carácter e força do que muitas das escritas por autoras do século XXI (o que é extremamente triste).

Posso até dizer que para além de Puck (que admite que a confusão por ele criada o diverte imenso), a minha personagem preferida é a Helena. Sim, ela rebaixa-se por amor a Demetrius, mas apenas nos seus termos. Não deixa que a gozem. É uma mulher forte. O seu amor impressionou até Oberon.

Gostaria imenso de ver esta peça, mas alas, enquanto tal oportunidade não surge posso apenas ler e recomendar a obra de Shakespeare. Afinal, "antigo" não é, de todo, sinónimo de "aborrecido".

Esta opinião foi escrita pela Slayra do blog Livros, Livros e mais Livros que, de repente e sem se aperceber, contribuiu para a temporada Shakespeariana e fez-me rir que nem perdida no trabalho quando recebi o seu texto, que me levou logo a imaginar o Shakespeare casado com a Catwoman, e o comentário "diria que estavam todos 'on speed' nesta peça se o speed já tivesse sido inventado." xD

8 comentários:

Carla M. Soares disse...

Procura o filme. Podes espreitar: http://www.imdb.com/title/tt0140379/

E se gostas das comédias de Shakespeare (que andam sempre à volta de enganos e confusões brutais) experimenta Twelfth Night, em que a personagem feminina, Viola... sim, foi ela que deu nome à personagem de Shakespeare inlove, bom, Viola sobrevive a um naufrágio (lembras-te do fim de Shakespeare inlove?) e disfarça-se de rapaz, para não ter problemas na corte do duque Orsino, mas apaixona-se por ele... o resto não conto.
Ou Much Ado About Nothing, que tb é um disparate pegado, e tem um filme: http://www.imdb.com/title/tt0107616/

Ou podes perder a cabeça e ler uma das tragédias, o Hamlet, por exemplo. :D

slayra disse...

Hmm... o Twelfth Night parece interessante. xD

Ainda bem que ao menos o texto tem piada, porque eu sou tão versada em Shakespeare como eh... não me ocorre nenhuma comparação, mas pronto. Não sou nada versada. xD

WhiteLady3 disse...

Eu bem lhe disse para ela procurar o filme. :D

Qualquer adaptação pelo Kenneth Branagh vale a pena! :D

Diana Marques disse...

Esta também foi a única comédia que li do Shakespeare e lê-se muito bem. Eu li-a numa tarde quando a estudei para uma cadeira da faculdade. E não, WhiteLady3, não fiz nenhum trabalho sobre esta peça xD
É muito leve, bastante adequada para se ler no verão, mas eu gosto mesmo é das tragédias, de coisas mais épicas, com palavreado mais forte! Mas são gostos :P
De qualquer maneira, pretendo ler todas as peças do Shakespeare, a longo prazo. Valem bem a pena :)

WhiteLady3 disse...

LOL Deve ter sido a única! xD

Eu até agora só tenho lido as tragédias (sangue! fantasmas! MORTES! \o/) mas tenho de ver se leio pelo menos uma comédia. Falando em tragédia, já viste ShakespeaRe-Told? Ontem vi o Macbeth e adorei! "Pigs are landing on my head!" xD

slayra disse...

Dear me, pigs? O.o

WhiteLady3 disse...

LOL Na verdade devia de ser qualquer coisa relacionado com "não nascer de uma mulher" ou algo assim, nascer por cesariana, mas como é passado na época actual e tal tipo de nascimento é comum mudaram para "quando porcos voarem e aterrarem na tua cabeça". Suponho que os humanos sejam os porcos. :D

WhiteLady3 disse...

Ou ele estava a receber uma encomenda de porcos que veio por helicóptero...

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...