18 de abril de 2011

Verdade ou Consequência? (4)

O Leopardo

Aceitei o desafio da Carla para a rubrica “Verdade ou Consequência”. Escolhi Consequência, sendo o livro escolhido, dentre aqueles que tenho para ler, O Leopardo de Tomasi di Lampedusa.

Publicado postumamente e escrito dois antes do seu falecimento, O Leopardo é considerado um clássico da literatura e tornado mundialmente conhecido em 1963 quando Visconti realizou um filme com o mesmo nome.

Logo nas primeira páginas compreendemos que este livro estava, desde o início, destinado à galeria dos clássicos devido à escrita do autor e também porque consegue estratificar as várias camadas culturais e sociais da Sicília, assim como é exímio na explanação de sensações. Ou seja, logo nas primeiras páginas, sentimos a força e o carácter da Sicília. O cheiro da terra, os sons que povoam o ambiente. Uma escrita irónica, extremamente visual que me agradou imenso, pois teve o condão de me fazer sentir parte da história, interagir com os personagens.

A nível estrutural, a história é-nos contada por um narrador omnipresente. Nunca saberemos de quem se trata, mas é em jeito de memória nostálgica que ele nos vai apresentando a história. Por vezes sentimos que o narrador é o próprio Lampedusa, pois sabe-se que este romance é algo biográfico, até porque os cenários criados pelo autor são baseados nos cenários da sua infância.

Escrito em 1956, o autor situa-nos na Sicília em 1860.

Don Fabrízio, O Leopardo (devido ao brasão da família) é o chefe de uma velha e respeitada família aristocrata.

Uma época de transição social (na altura a Itália era composta por pequenos principados e mini-repúblicas), a obra retracta essa transição que levou à unificação da Itália sob o comando de Garibaldi.

É este o principal pólo de interesse do romance. Lampedusa dá-nos uma visão das movimentações das forças de Garibaldi, em simultâneo que explora a visão e perspectiva da velha burguesia ainda a viver debaixo de leis feudais e caracterizada pela família de D. Fabrízio, que olha para esta transição de uma forma pessimista mas ao mesmo tempo esperançosa, no entanto surpreendeu-me a atitude passiva com que essa classe reagiu a essa transição.

Para além de D. Fabrízio, há outro personagem que gostei. O jovem sobrinho e protegido de Fabrízio, Tancredi. Tancredi representa, pelo menos de início, os ideais dos “camisas vermelhas” de Garibaldi. Tancredi representa a mudança, a força da nova nação, os ideais revolucionários assim como e ao casar com a filha de um latifundiário, simboliza a rotura com o passado.

Uma obra que merece ser analisada com muito cuidado, não só porque nos permite compreender o nascimento da Itália (há pouco mais de 100 anos), como também por conter mensagens e críticas a outros sectores da sociedade italiana, tal como a igreja e o regime fascista vivido por Lampedusa.

Pessoalmente não foi um romance que me deixe saudades e que um dia pense em reler.

Enfadonho na sua maior parte, é uma obra que deve interessar a curiosos e estudiosos da temática central, mas enquanto entretenimento, honestamente, penso que o tempo a ler pode ser melhor passado.

Passado na sua maior parte entre quatro paredes, com diálogos por vezes sensaborões, gostei de facto da ironia do autor e da estrutura do romance, mas confesso que me aborreceu a história e, embora tenha aprendido sobre os acontecimentos da época, pouco ou nada me diverti.


Opinião escrita pelo Iceman, do blog nlivros, a quem agradeço a disponibilidade para participar. :)

4 comentários:

Ana C. Nunes disse...

Esta rubrica continua a surpreender.

Apesar de ainda não ter lido o livro em questão, reconheço um pouco o que o Iceman descreve, de outros clássicos. Certamente que como representador da época em questão o livro será interessante, mas é preciso estar na altura certa para ler um livro que, conforme diz o opinador, em termos de história central peca um pouco.

Gostei muito de ler esta opinião.

Cat SaDiablo disse...

Mais uma vez gostei bastante desta rubrica. Concordo com o que disse a Ana Nunes, muitas vezes os clássicos não nos satisfazem enquanto leitores, porque são de facto livros que precisam de dedicação e tempo, e algum timing. Não deixam de ser, no entanto, livros de referência, marcantes e representativos de uma época e/ou estilo.
Gostei muito de ler.

WhiteLady3 disse...

Obrigada pelos comentários e tenho de agradecer também ao Iceman pela crítica, pois tinha muita curiosidade e gosto das críticas dele, que ressalvam sempre a ´poca sobre a qual se debruçam e foram escritas. Sempre ouvi críticas bastante díspares, tanto ao filme como ao livro, ou que eram fenomenais pelo retrato da época, ou que eram muito aborrecidos, e quis então saber um pouco mais. :P Parece que tal se confirma. Ainda assim a curiosidade para ler é muita, sobretudo porque começo a ficar muito curiosa sobre a unificação da Itália, até porque o primeiro rei da Itália unificada foi avô de um rei português. :)

NLivros disse...

De facto gostar de um clássico é sempre subjectivo, pode depender de vários factores e até do nosso estado de espírito e interesse actual.

Apreciei a estrutura e o tom desta obra, mas mentira se disse que havia gostado, porque me aborreceu imenso e confesso que a minha unica motivação foi o desafio da Carla.

Mas repito o que disse na opinião, este livro é um excelente "manual" sobre essa época.

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